Imigrantes que pedem ajuda para sair de Portugal batem recordes (com brasileiros na frente)

(CC0) B_Me / Pixabay

Há cada vez mais imigrantes, em Portugal, a pedirem ajuda para voltarem aos seus países de origem. Em 2022, os pedidos de apoio ao regresso voluntário bateram recordes. A maioria dos pedidos foram de brasileiros.

Em 2022, registaram-se 1.051 pedidos de apoio ao regresso voluntário, sendo a maioria de cidadãos brasileiros, com 913 inscrições, de acordo com dados do chefe de missão da Organização Internacional das Migrações (OIM) em Lisboa, Vasco Malta.

Os números dão um recorde de inscritos no programa ARVoRe (Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração de imigrantes no país de origem). “Tivemos 1.051 inscritos em 2022, e do total de retornados falamos de 394 pessoas”, revela Vasco Malta, em declarações à Lusa.

No caso concreto do Brasil, “também é um recorde bastante significativo, e retornaram para o Brasil 350″ em 2022, adianta ainda o responsável.

Assim, a comunidade brasileira é a mais representativa ao nível dos pedidos de retorno, mas Vasco Malta destaca também “a presença de Timor-Leste, cujo fluxo migratório já no ano de 2022 foi significativo”, e, de acordo com a sua expectativa, vai continuar a ser em 2023.

Para Vasco Malta, “há um conjunto de factores” que contribuem para este aumento dos pedidos de ajuda, designadamente desemprego, dificuldades de acesso ao mercado de trabalho, à habitação e de regularização do cartão de residência.

Segundo o responsável, não foi só o número de pedidos que aumentou, também cresceram “de forma surpreendente” os casos de pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, a viverem na rua ou sendo vítimas de violência doméstica e de tráfico de seres humanos.

Há em 2022 “um número anormal de situações de vulnerabilidade extrema, que sempre aconteceram ao longo dos anos, mas nunca nestes registo tão elevados”, refere Vasco Malta.

Imigração para Portugal nem sempre é informada

Dos imigrantes que pedem o retorno, mais de 30% fazem-no ainda no primeiro ano em que emigraram para Portugal, outros 37% voltam no segundo ano de estadia cá, e mais de 30% recorrem passados mais de dois anos como imigrantes no país.

O que isto quer dizer para Vasco Malta é que “claramente” há “uma decisão de migração para Portugal que não é informada, não é preparada e não sendo preparada detalhadamente pelas pessoas leva logo, à partida, a uma maior vulnerabilidade”.

“Há pessoas que recorrendo às redes sociais, às redes informais e aos vídeos no Youtube” e “constroem uma imagem acerca de Portugal que não é uma imagem que corresponde à realidade”, explica Vasco Malta.

Por isso, Vasco Malta aconselha quem queira emigrar “a saber qual o salário médio em Portugal, se nas áreas onde queira trabalhar pode ter trabalho, ou não, os custos médios de vida nas cidades, da casa, da alimentação, dos preços da energia”.

Portugal é visto como “um ponto de trânsito”

Quanto ao crescimento do número de pedidos timorenses, o responsável da OIM explicou que muitos que vinham para Portugal olhavam para o país como “um ponto de trânsito”, tendo como destino final o Reino Unido.

Mas com o Brexit, processo de saída do Reino Unido da União Europeia, “as dificuldades de entrar naquele país aumentaram, mesmo para os que tinham nacionalidade portuguesa e foram ficando por Portugal”, explica Vasco Malta.

Além disso, a comunidade timorense em Portugal também aumentou devido às condições socioeconómicas em Timor-Leste, acrescenta, e houve os que foram aliciados por um conjunto de empresas, que não cumpriram as ofertas.

Tudo isto fez com que “os números de inscritos de Timor-Leste no projeto de retorno aumentasse drasticamente entre 2022 e 2023”, e a organização está “a trabalhar para que possam voltar de forma regular, humana e ordeira” ao seu país.

 

ZAP // Lusa

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