Um ano depois da enxurrada de sanções sem precedentes contra a Rússia, o país não dá sinais de grande fragilidade e a economia está a aguentar-se.
Ainda antes da guerra na Ucrânia começar, os países ocidentais já estavam a preparar o arsenal de sanções económicas contra a Rússia e rostos influentes no círculo próximo de Vladimir Putin. Um ano depois, será que esta onda de sanções sem precedentes teve o impacto esperado pelos Estados Unidos e pelos parceiros europeus?
A resposta curta é não, caso contrário a guerra provavelmente já teria acabado. O colapso económico total que se esperava nunca chegou a acontecer, o que levou a que Putin declarasse com confiança no início de 2023 que “2022 foi um ano desafiante”, mas que conseguiu “gerir os riscos que emergiram com bastante sucesso”. A resposta comprida também é não, mas já exige mais algum contexto.
Resposta rápida dos bancos
No início da guerra, o cenário parecia favorável ao Ocidente. O rublo caiu a pique devido à corrida dos cidadãos aos bancos após a exclusão do sistema de transações internacionais SWIFT e com a saída de inúmeras empresas estrangeiras da Rússia.
O congelamento dos bens do Governo nos bancos estrangeiros e a restrição nos pagamentos e acesso aos mercados de capitais também tiveram o impacto mais imediato na economia.
No entanto, o Banco Central da Rússia conseguiu rapidamente estabilizar a moeda e levar o seu valor de volta aos níveis registados antes da guerra. As autoridades impuseram restrições nas transações de capitais e recusaram converter o rublo, o que fortaleceu a taxa de câmbio e conteve a desvalorização da moeda.
A inflação atingiu um pico de 18% em Abril e foi caindo progressivamente até chegar aos 12% em Dezembro — não ficando muito acima das taxas registadas no Ocidente.
Preparação atempada
O efeito das sanções também foi mitigado porque Moscovo já se estava a preparar para esta guerra — e para as suas consequências — há vários anos. Especialmente desde a anexação da Crimeia, em 2014, a Rússia já sabia como contornar e viver com as sanções económicas do Ocidente.
O mercado de trabalho russo geralmente absorve os choques não ao demitir os trabalhadores, mas pagando-lhes menos até que as coisas melhorem. Além disso, 15% da força de trabalho na Rússia é composta por migrantes, principalmente da Ásia Central, que podem ser demitidos e mandados para casa e depois recontratados conforme necessário, escreve Peter Rutland no The Conversation.
O governo russo também conseguiu mitigar o efeito das sanções sobre a população aumentando os gastos. A despesa pública aumentou 32% em relação ao orçamento planeado para 2022.
Cerca de metade do orçamento adicional foi para o exército, mas grande parte do restante foi gasto em novos programas sociais, incluindo subidas das pensões ou aumento dos benefícios para as famílias. Moscovo conseguiu cobrir os gastos extras com a reserva fiscal acumulada em anos anteriores, o Fundo Nacional de Riqueza.
A pressão sobre o orçamento do governo russo inevitavelmente aumentará nos próximos anos porque a economia não será capaz de gerar receitas suficientes. Como resultado, a reserva fiscal pode desaparecer completamente até 2025-26, mas isso não levará a uma crise, já que a dívida pública russa total está abaixo de 20% do PIB, o que permite ao governo fazer empréstimos no mercado doméstico.
Apesar de terem levado com muitas sanções, a grande maioria dos oligarcas também se tem mantido leal ao Kremlin — e os poucos que criticam publicamente a guerra têm aparecido misteriosamente mortos — pelo que há uma aparente estabilidade no círculo próximo de Putin.
Controlo do mercado de matérias-primas
Uma das principais razões que explica a resistência russa é o seu papel importante no mercado global de, bem, practicamente tudo.
A riqueza russa em matérias-primas, como o petróleo, paládio, alumínio, etc, dá ao país uma enorme importância no mercado industrial. Esta dependência tem em grande parte protegido a economia da força total das sanções, relata a Forbes.
Em 2021, a Rússia produziu 17,5% do petróleo vendido em todo o mundo, 47% do paládio, 16,7% do níquel e quase um quarto dos fertilizantes potássicos. A economia mundial pode fazer um embargo total aos produtos russos, mas isso levaria a um agravamento ainda maior na escalada da inflação e desencadearia uma enorme recessão, o que não está nos planos dos políticos ocidentais.
A Rússia pode também estar a gastar cerca de 300 milhões de dólares por dia na guerra, mas durante grande parte de 2022, encaixou cerca de 800 milhões diários só com a venda de produtos energéticos. Este sector por si só tem sido o suficiente para segurar a economia.
A 5 de Fevereiro, entrou em vigor a proibição total da compra de produtos de petróleo refinado russos na União Europeia, mas ainda não há indícios de que este embargo tenha feito grande mossa em Moscovo.
A guerra gerou ainda uma subida nos preços de petróleo e do gás natural. No primeiro mês do conflito, os preços do petróleo subiram 50%, atingindo um pico de 139 dólares por barril em Abril. Os preços do gás também chegaram a subir 500% na Europa.
Apesar dos cortes à compra de petróleo e gás russos na Europa, a sua dependência de Moscovo impediu que houvesse um corte total desde logo. Desta forma, a Rússia acabou por beneficiar desta escalada de preços e as suas receitas energéticas chegaram aos 160 mil milhões de dólares em 2022 — o valor mais alto desde 2011. O país encerrou o ano com excedente recorde de 227 mil milhões de dólares.
As exportações de crude também são ligeiramente mais baixas do que antes da invasão, mas continuam acima dos 10 milhões de barrils por dia. Tudo isto levou a que o PIB russo se contraísse apenas 2,1% em 2022, muito abaixo das estimativas que feitas no início da guerra, que apontavam para uma quebra entre 5% e 6%.
Um leque de (outros) clientes
Os 49 países que impuseram sanções à Rússia representam apenas 60% da economia mundial. Isto significa que há ainda 40% dispostos a fazer negócios com a Rússia, incluindo alguns pesos-pesados.
A China e a Índia, por exemplo, têm comprado ainda mais petróleo e gás russos e aproveitaram as sanções ocidentais para negociar preços mais baratos e descontos de entre 20 e 30 dólares por barril. O comércio da Turquia com Moscovo também subiu 45% em 2022.
O Irão também tem sido um aliado importante, fornecendo até drones e material militar a Moscovo. E apesar dos seus esforços para cortar a dependência da Rússia, os países europeus gastaram 125 mil milhões de dólares em compras de petróleo e gás russos desde o início da guerra.
Como termo de comparação, a China gastou 50 mil milhões, a Turquia 20 mil milhões e a Índia 18 mil milhões em compras energéticas à Rússia.
Mas há sinais de fragilidade
Apesar disto, as sanções devastaram alguns sectores, principalmente a aviação e a produção automóvel. A produção de novos carros na Rússia caiu a pique e as compras sofreram uma quebra de 59%.
As minas de carvão em Kemerovo também conseguiram vender apenas entre 50% e 60% da sua produção. Na Carélia e em Arkhangelsk, onde existem muitas empresas de carpintaria, a produção industrial contraiu 15,5% e 19,8%, respectivamente. Em Lipetsk, caiu 15,4% devido a uma queda na produção da maior siderúrgica russa, a Novolipetsk Steel.
O governo russo também parou de publicar a maioria das estatísticas económicas agregadas, pelo que os dados devem ser tratados com cautela e é possível que a realidade seja pior do que os números sugerem.
Mas por enquanto, as sanções não tem feito grande mossa nos planos de Putin.
Resultaram sim as sanções contra a própria Europa que a pretexto da guerra na Ucrânia aumentou imenso a dificuldade das pessoas. O mesmo já vinham fazendo com a fraudemia Covid. Tudo manobras de diversão para enriquecer os cada vez mais ricos e empobrecer os mais pobres.
A Europa é que precisa da Rússia não é a Rússia que precisa da Europa. Acordem portugueses.
A Rússia está com uma mão à frente e outra atrás. As sanções resultaram. E em 2022, a queda do PIB foi disfarçado porque o Estado Russo ainda tinha meios para puxar pela economia. Daqui para a frente vai ser bonito. Com as vendas de gás e petróleo a metade do preço a que vendiam para a UE, estou para ver onde é que se vão financiar.
Miguel vá para a Russia, lá é o seu lugar.
Concordo consigo mas anquanto Politizarem esta Guerra só mais tarde entenderão, a Russia Aguenta-se e vai se aguentar, os EUA recuperaram o Poder de compra e cada vez estão melhores com o Dolar a UE (Europa) cada vez está mais em queda e o Euro a Perder cada vez mais, ou seja nisto tudo os Europeus são os Unicos que ficaram a Perder
Desculpe discordar. Quem ficou mais a perder foram os Ucranianos, parece-me óbvio.
Verdade , tenho de concordar consigo também, essa é a Dura Realidade quem sofre mais é o Povo
Dá para ver que estão a resultar. O nível de vida da Europa subiu em flecha, a guerra continua. O Sr. FM fala isso porque deve pertencer ao clube das elites portuguesas onde se pode roubar à descarada impunemente. Sorte a sua.
Vá viver para a Rússia se acha que por aqui se vive mal. De que é que está à espera?
Com 160 euros /mês de salário mínimo é que ele era feliz. Esta gente é tão alienada que até dá dó.
Fico espantado com a condescendência , que certos comentadores manifestam a estes Regimes Ditatoriais . Quase chego a pensar que esta Potencia Imperialista , na mente de alguns ditos “Comodistas e não Comunistas” é vista como o “Jardin do Eden” . mas enfim , ainda bem que vivem num País Democrático , onde podem , Pensar livremente , Falar Livremente e até deixar a sua Opinião neste Espaço de Comentários ! . É muito fácil de criticar a Democracia e o País onde se vive , o que não o poderiam fazer nesse “Paraíso” que tanto defendem ! . Como se costuma dizer (quem não se sente bem neste lugar , que se mude para outro melhor) neste caso o Paraíso Soviético vos acolherá de braços abertos , váááá ………….., avante Camaradas !