Os psicopatas podem ter uma vantagem evolutiva

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Eles andam por todo o lado, mesmo quando nem reparamos. Mas a psicopatia é intrigante, do ponto de vista evolutivo.

Psicopatas. Só nos filmes? Nem por isso. Eles podem andar à nossa volta e nem reparamos.

De acordo com cálculos globais, 1% da população mundial é psicopata, sendo que a maioria pertence ao sexo masculino.

Mas esses números podem ser bem maiores. Uma estimativa citada no The Conversation avisa que até 20% dos líderes empresariais têm “níveis clinicamente relevantes” de tendências psicopáticas.

Emoções superficiais, falta de empatia, imoralidade, comportamento anti-social e, principalmente, falsidade.

Quem já viu Psycho, ou mais recentemente Dexter, sabe que encontramos essas características em psicopatas.

Mas, do ponto de vista evolutivo, a psicopatia é intrigante. São traços negativos que se prolongam por diversas gerações. Deverá haver um factor genético nessa família de distúrbios.

E há evidências que mostram que parte desse problema tem um benefício evolutivo.

Essa vantagem evolutiva está relacionada com a capacidade de falsificar qualidades que os outros desejam – enganando os outros.

É o “poder da batota”.

Evolutivamente falando, as pessoas mais confiáveis são as pessoas mais bem-sucedidas. Confiança e confiabilidade são elementos importantes na história da evolução social humana.

A confiança está intrinsecamente ligada à cooperação. Somos demasiados para cooperar todos uns com os outros, mas é essencial cooperar com as pessoas mais próximas: familiares, amigos.

Cooperar com um estranho requer confiança. E, para confiar no estranho, é preciso que o estranho nos convença de que não farão qualquer mal. Procuramos sinais, ouvimos as frases, analisamos micro-expressões.

E aí os psicopatas são quase infalíveis: fingem (muito bem) que são de confiar. E depois matam, ou roubam, ou violam.

Há psicólogos evolucionistas que defendem que as pessoas desenvolveram uma capacidade de detecção de mentirosos; o que colocaria os mentirosos em desvantagem. Mas aparentemente os psicopatas escapam a esse “radar”.

Além disso, os psicopatas geralmente mentem até quando precisam de mentir. Só fingem algo até atingirem o seu objectivo, só conquistam a confiança de alguém no contexto em que essa confiança é útil para ele ou ela. Depois disso, descarta aquela pessoa. Desaparece.

“Esperem aí… Então e só 1% da população mundial é psicopata? Conheço muita gente assim!” – poderá reagir o leitor.

Mas, na comunidade científica, a psicopatia só ocorre quando há plasticidade fenotípica: a capacidade inata de os genes humanos se expressarem de maneira diferente, em circunstâncias diferentes.

E depois depende muito do contexto: uma pessoa aparentemente insensível e sem emoções é considerada psicopata, por ter tido uma educação complicada, sem ser bem cuidada, sem ser amada. Ligam o “modo de segurança” em adultos.

Mas noutros países a psicopatia não é associada à falsidade ou à superficialidade.

Há no entanto uma ideia geral: estas tendências surgem principalmente em circunstâncias familiares trágicas.

A esperança reside no contexto cultural da psicopatia. Porque a sociedade – ou seja, as pessoas que rodeiam o psicopata – pode ajudar a que essas pessoas melhorem.

Ou seja: aproveitar o facto de o psicopata querer parecer confiante para lhe mostrar que a confiança deve ser inata, genuína. Sem esperar por recompensas.

As pessoas com tendências anti-sociais poderão começar a tratar melhor os outros, sem segundas intenções.

Podemos ajudar a moldar a evolução.

ZAP //

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