De acordo com a ciência, o cabelo humano parece proteger-nos do sobreaquecimento, mas o extremamente encaracolado apresenta vantagem.
A existência de cabelo no topo da cabeça dos humanos há muito que intriga a ciência, já que este aspeto em tudo nos distingue dos restantes animais — cobertos de pelo na totalidade dos seus corpos.
Tal como aponta um novo estudo, “nem as funções do couro cabeludo humano nas as consequências da variação da sua morfologia foram estudados do ponto de vista evolutivo“.
Uma das apostas dos especialistas tem que ver com o crescimento de cabelo como forma de regular as temperaturas dos nossos corpos. Mas, e no que respeita aos diferentes tipos de cabelo (lisos, encaracolados, afros…), como é que se explicam as diferenças? Terão os diferentes estilos consequências ao nível da regulação das temperaturas?
“Os cabelos com caracóis muito fechados, os quais são comuns em muitas populações africanas, podem ter uma vantagem na redução do ganho de calor resultante da exposição à luz solar“, escreve um investigador.
“Adicionalmente, a ubiquidade de um cabelo com caracóis muito fechados num continente com uma diversidade genética sem igual pode sugerir que o papel da morfologia do couro cabeludo pode merecer mais atenção”, acrescenta.
Como forma de testar esta ideia, a equipa decidiu adicionar um manequim térmico a uma seleção de diferentes estilos de perucas: uma lisa, uma moderadamente encaracolada e uma extremamente encaracolada.
De seguida, inseriram as figuras numa sob lâmpadas de calor numa câmara de clima controlado, o que lhes permitiu monitorizar o calor perdido e acumulado nas cabeças das diferentes modelos, de forma a perceberem qual o melhor penteado para as manter frias.
No final, perceberam que a que a tese original estava correta. “No geral, o padrão que observamos indica que o ganho de calor solar aconteceu nos manequins sem cabelo”, reconheceu a equipa.
Simultaneamente, as que tinham “cabelo liso, cabelo moderadamente encaracolado e extremamente encaracolado evidenciaram um ganho de calor decrescente nessa ordem”.
Independentemente da textura, o cabelo humano parece proteger-nos do sobreaquecimento, mas o extremamente encaracolado apresenta vantagem.
Os autores tratam de explicar: como um longo casaco de pelo no reino animal, o cabelo encaracolado, afasta-se da cabeça, aumentando a distância entre as pontas do cabelo e a superfície do couro cabeludo.
“As condições em que os seres humanos evoluíram de tais formas que o processo parece ter favorecido as adaptações para a conservação da água“, pode ler-se no artigo científico citado pelo IFL Science.
“Um cenário plausível poderia ser a evolução de cabelos extremamente encaracolados que isolavam os corpos contra o calor e reduziam a perda de água, ao mesmo tempo que prolongavam o tempo em que os indivíduos podiam praticar atividades físicas exigentes antes de precisarem de água”.
Obviamente, três perucas e um manequim térmico não provam nada, pelo que os investigadores estão conscientes de que o seu trabalho tem algumas limitações.
No entanto, defendem que os resultados “são importantes para os especialistas que tentam compreender a evolução dos primeiros hominídeos e das populações humanas que surgiram mais tarde, uma vez que proporcionam uma visão dos contextos específicos em que o cabelo, particularmente o cabelo encaracolado, pode ter sido vantajoso“.
“Embora ainda não tenhamos compreensão de até que ponto o couro cabeludo com cabelo pode ajudar a regular a temperatura de todo o corpo, este trabalho fornece algumas conclusões preliminares valiosas”, concluem.
“Esta investigação representa um primeiro passo na compreensão da ligação entre o cabelo do couro cabeludo humano e a carga térmica para o cérebro e o corpo”.