Transportes parados, escolas fechadas, hospitais a meio gás e até bombas de gasolina encerradas. França vive, nesta quinta-feira, um dia negro com uma greve geral contra as mudanças no sistema de pensões.
“Vai ser uma grande jornada de mobilização“, prevê o líder da CGT, um dos maiores sindicatos franceses, num dia em que se cumpre um mega protesto nas grandes cidades do país.
É “a vida quotidiana transformada numa corrida de obstáculos”, analisa-se no editorial do jornal Le Figaro escrito pelo director-adjunto Vincent Trémolet de Villers que fala de uma “quinta-feira negra”.
“Comboios fantasma, escolas vazias, actividades reduzidas, estradas bloqueadas, um toque de recolher imposto: o confinamento sindical“, nota ainda o jornalista.
Há franceses, e “talvez sejam a maioria”, que “não são entusiastas da ideia de trabalhar mais dois anos”, mas que estão “ainda menos dispostos a suportar, por semanas, a desordem estéril de uma sociedade mergulhada na ruptura voluntária“, acrescenta Villers, prevendo o que os sindicatos já anunciaram – que os protestos vão continuar pelos próximos dias.
A reforma das pensões foi uma promessa de Macron durante a última campanha eleitoral que o reelegeu presidente de França. Foi, finalmente, revelada no passado dia 10 de Janeiro pela sua primeira-ministra Elisabeth Borne.
O projeto apresentado pelo Governo francês visa aumentar, gradualmente, a idade da reforma dos 62 anos actuais para os 64 anos em 2030. Também prevê o aumento do tempo de contribuição, dos 42 anos actuais para os 43 anos (ou 172 trimestres) em 2027, à razão de um trimestre adicional por ano.
Estas medidas desagradam aos sindicatos e a muitos franceses que estão a protestar nas ruas.
“Um braço-de-ferro inútil”
“O Governo já perdeu a sua primeira batalha: a de convencer as pessoas da necessidade da sua reforma”, defende Jean-Luc Mélenchon, do partido de oposição França Insubmissa, durante a participação nos protestos nas ruas de Marselha.
“Ninguém acredita nos argumentos apresentados”, nota ainda Mélenchon em declarações divulgadas pelo Le Monde. “As pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios, mas aqui, sabem que lhes mentem“, acrescenta.
“Quando se toma uma decisão tão grave de retirar dois anos de tempo às pessoas, é preciso uma justificação e não há nenhuma”, realça, sublinhando que “o regime de reforma não está em déficit e não estará”.
Assim, Mélenchon apela a Macron para recuar na reforma, incitando-o a “compreender que os anos Blair-Thatcher já acabaram” e falando de uma “reforma sem sentido” e de “um braço-de-ferro inútil” com a população.
Além disso, deixa um alerta e um apelo, realçando que a unidade sindical dá “uma força considerável” aos protestos.
Se ao menos os portugueses tivessem um pouco de brio na maneira de protestar e de se unir cinicamente e civicamente …