Uma nova investigação da Universidade de Iorque está a lançar luz sobre os mecanismos subjacentes à razão pela qual os homens são mais propensos a morrer de doenças relacionadas com a obesidade do que as mulheres.
Num estudo com ratos, publicado recentemente na iScience, os investigadores sugerem que os processos associados à inflamação são mais prevalentes no tecido adiposo dos homens.
De acordo com o New Atlas, uma investigação de 2016 já havia estabelecido que os homens têm três vezes mais probabilidades de morrer de doenças relacionadas com a obesidade do que as mulheres.
No estudo – no qual foram analisados dados de saúde de cerca de quatro milhões de pessoas – não foram avançadas explicações sobre a razão pela qual os homens obesos são mais vulneráveis à morte prematura do que as mulheres obesas.
Nos últimos anos, investigadores da Universidade de Iorque têm tentado responder a essa pergunta. Em 2018, descobriram que os ratos femininos produziam mais vasos sanguíneos em tecidos adiposos do que os masculinos. Este aumento da vascularização estava associado a taxas mais baixas de anomalias metabólicas.
Nesta nova investigação debruçaram-se sobre as células endoteliais específicas que compõem os vasos sanguíneos no tecido adiposo. O objetivo era compreender quais as diferenças genéticas associados ao sexo dos ratos que podiam ser detetadas nessas células.
Os resultados revelaram diferenças genéticas entre ratos masculinos e femininos, particularmente em relação aos genes ligados à inflamação. As células dos vasos sanguíneos em tecido adiposo dos machos apresentavam marcadores genéticos pró-inflamatórios que não eram detetados nas mesmas células das fêmeas.
“É impressionante a extensão dos processos associados à inflamação que prevalecem nos machos. Outros estudos mostraram que quando as células endoteliais têm esse tipo de resposta inflamatória, são muito disfuncionais, e não respondem aos estímulos de forma adequada”, disse Tara Haas, a principal investigadora do projeto.
O mistério adensou-se quando os investigadores observaram o comportamento das células endoteliais em condições laboratoriais. Removidas do corpo, as células endoteliais femininas do tecido adiposo replicaram-se mais rapidamente do que as células semelhantes dos homens.
“Mesmo quando as retiramos do corpo”, removendo assim o contacto com as hormonas sexuais circulantes ou outros tipos de fatores, “as células endoteliais masculinas e femininas ainda se comportaram de forma muito diferente umas das outras”, acrescentou Haas.
Os investigadores sugerem que esta diferença nas características epigenéticas das células endoteliais entre machos e fêmeas explica as variações nas doenças relacionadas com a obesidade. Contudo, ainda não se sabe exatamente o que pode causar estas diferenças celulares no tecido adiposo.
“Esta não é apenas uma questão relacionada com a obesidade – penso que é um problema conceptual muito mais amplo, que também engloba o envelhecimento saudável. Uma implicação das nossas conclusões é que haverá situações em que o tratamento que é ideal para os homens não será ideal para as mulheres e vice-versa”, concluiu o investigador.