Um grupo de 12 pinguins foi exposto ao espelho em condições diferentes, com os animais a reagiram ativamente quando o teste era feito de forma isolada.
Colocar um espelho em frente aos animais para ver e registar a sua reação é um teste que os cientistas têm por hábito fazer, deliciando-se com muitas das reações dos animais ao seu próprio reflexo — no caso das espécies que têm essa capacidade de entendimento, claro está. De facto, os elefantes, os macacos, os golfinhos, as pegas eurasiáticas e os bodiões limpadores pertencem a um restrito clube, encabeçado pelos humanos, de espécies que se conseguem reconhecer ao espelho.
Desta vez foram os pinguins Adélie a serem testados, com os resultados a serem um pouco dúbios É que apesar de ser prematuro concluir que os pinguins têm um sentido de auto-consciencialização, a equipa de investigação responsável ainda sente que existem provas suficientes para considerar a hipótese plausível.
Numa fase preliminar do estudo, ainda à espera de revisão pelos pares, uma equipa liderada por Prabir Ghosh Dastidar, do Ministério das Ciências da Terra da Índia, apresentou os pinguins selvagens Adélie (Pygoscelis adeliae) às suas próprias reflexões durante uma série de experiências.
Considerados animais altamente sociais, com alguns indivíduos antárcticos a dependerem de amontoados coloniais para suportar os extremos gelados do Inverno, os pinguins são também relativamente fáceis de testar numa situação selvagem. Desta forma, os cientistas não sentiram dificuldade ao testá-los, contrariando o que aconteceu com outros animais num ambiente cativo.
Um grupo de 12 pinguins foi exposto ao espelho em condições diferentes, com os cientistas a perceberem que quando o contacto era feito em grupo, existia pouca reação. No entanto, quando a exposição ao reflexo acontecia com os animais isolados por caixas de cartão e individualmente, estes ficavam intrigados com os seus reflexos.
“Os pinguins fizeram movimentos rápidos das suas cabeças, barbatanas e dos seus corpos, alguns dos quais pareciam ser mesmo gestos“, escreve a equipa. “Muitos destes movimentos e gestos foram rapidamente repetidos, mas de forma impressionante, a atenção visual de todos os pinguins sujeitos estava firmemente nas suas imagens durante todo o tempo da sua atuação”.
Os animais não tentaram entrar em contacto ou perpetuar qualquer agressão para com a sua imagem ao espelho, sugerindo que talvez ‘soubessem’ a algum nível que a ave no espelho não era nem amiga nem inimiga, mas um reflexo de a si próprias.
Os cientistas atreveram-se também a marcar com um babete vermelho alguns dos animais, contudo, estes não reagiram à mudança na sua aparência. A equipa admite que existem provas anedóticas de que nem todos os pinguins conseguem ver a cor em causa, pelo que não estão confiantes neste resultado.
“Tais experiências deveriam ser melhor concebidas no futuro“, sugerem Dastidar e os colegas, no entanto, “as nossas investigações levam-nos a tentar sugerir que os pinguins de Adélie são possivelmente autoconscientes, como indicado pelas suas respostas às suas próprias imagens num espelho”.
Desde a sua criação, há cerca de meio século, tem havido cada vez mais provas de que o teste do espelho não é tão claro como se pensa. Muitos animais conhecidos por serem altamente sociais reprovam no teste, incluindo macacos, a menos que sejam treinados para usar primeiro um espelho. Também os animais sobre os quais os cientistas estão bastante confiantes de que são autoconscientes também falharam no teste, incluindo os gorilas.
Já os cães, por exemplo, são capazes de empatia, uma característica que também implica um sentido de si próprio e dos outros, no entanto, normalmente reprovam no teste do espelho.
Até as próprias crianças humanas podem não passar no teste do espelho, com algumas que só passa aos seis anos de idade em alguns países. Assim, embora o teste do espelho possa ser capaz de indicar a presença de alguma auto-consciencialização, não parece confirmar a falta desta característica vital na socialidade.
O criador original do teste do espelho é cético em relação aos resultados do pinguim até agora. “Os pinguins podem de facto ser capazes de auto-reconhecimento,” disse Gallup à New Scientist. “Mas isso exigiria uma ciência muito mais séria do que a contida neste artigo”.
À luz das complexidades pode ser que, como muitas outras características, a autoconsciência exista como um espectro e não como uma dicotomia como o teste do espelho implica. Isto significaria que precisaríamos de novas experiências para sondar este aspeto da consciência.