O que aconteceu na Grande Lisboa é apenas o início de um fenómeno global. E é preciso mudar comportamentos, avisa especialista.
O mau tempo afectou muito a zona da Grande Lisboa, sobretudo entre quarta e quinta-feira.
Na madrugada de quinta, em menos de 12 horas, os Bombeiros Sapadores de Lisboa registaram quase 300 ocorrências. Uma pessoa morreu, em Algés.
Mais de uma centena de pessoas tiveram que sair temporariamente das suas casas na sequência das fortes chuvas de quarta-feira. Lisboa e Setúbal foram os distritos mais afectados.
Este fenómeno não foi único e não será apenas localizado, avisa a professora Maria José Roxo. A especialista prevê que vários pontos do país vão passar por situações semelhantes, com “ruas a parecerem rios”, sobretudo “por causa dos solos”.
E alerta que estamos em tempos de mudança, também nos comportamentos: “Estes são fenómenos extremos, mas estamos em tempos de alterações. E os comportamentos também devem ser alterados. E não adianta procurar culpados – porque os culpados somos todos”.
“Se as pessoas sabem que foi emitido um alerta laranja ou vermelho (pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil), têm de levar esses alertas a sério. Se eu recebo mensagem no telemóvel com um alerta desses, tenho que tomar precauções”, sugeriu, na rádio TSF.
“O caso da pessoa que morreu em Algés, que lamento, não é um exemplo disso, mas muitas pessoas morrem para tentar salvar o seu carro, ou outros dos seus bens materiais. Eu entendo mas estamos perante a Natureza, que tem uma força incrível”, descreveu, dando depois um exemplo de descuido na estrada.
“Um condutor vai a conduzir, vê um lençol de água e segue, mete-se na mesma. E nem sabe se ali há estrada!”, continuou.
A professora na Universidade Nova de Lisboa explicou que “é impossível” prever quanta chuva vai cair em determinado minuto e em determinado local” mas é possível ter noção de um aspecto: “Quando se prevê, por exemplo, 20mm de chuva, quer dizer que vão cair 20 litros de água por metro quadrado. Mas isso pode acontecer durante um dia inteiro ou durante 10 minutos! É preciso ter noção disso”.
Esta situação em Lisboa não foi uma surpresa para Maria José Roxo: “No dia 8 de Setembro perguntei aos meus alunos ‘Depois da seca vem a chuva. E agora?’. E mostrei fotografias de sarjetas completamente entupidas, algumas já com vegetação. Isto não pode acontecer”.
“Podemos fazer muito para prevenir estes incidentes”, disse a professora, que apontou ainda para uma “inércia” por parte das autarquias, em relação a obras necessárias para minimizar os efeitos das tempestades. “Não se tem feito o que se deveria fazer e, depois, estamos sempre a correr atrás do prejuízo”.
A noite passada foi mais calma. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil registou 100 ocorrências relacionadas com o mau tempo, novamente centradas em Lisboa, mas sem registos de mortos ou feridos.
Ao fim da tarde de quinta-feira, um jogo de andebol (primeira divisão feminina) em São Pedro do Sul foi adiado: chovia em diversos pontos, dentro do pavilhão.