Alguns dos artefactos roubados do túmulo do faraó egípcio Tutankhamon foram finalmente encontrados em museus e leiloeiras.
O túmulo de Tutankhamon foi descoberto no Vale dos Reis, no Egito, em 1922, por investigadores liderados por Howard Carter. Enquanto a maioria dos túmulos dos faraós foi saqueada, o de Tut manteve-se escondido por escombros durante a maior parte da sua existência e, portanto, não foi saqueado.
Pelo menos, inicialmente. Quando o túmulo foi descoberto continha uma variedade de artefactos valiosos, incluindo roupas, cadeiras e carruagens, entre outras coisas. No entanto, nos anos que se seguira, vários artefactos desapareceram do túmulo. Os peritos indicavam que poderiam ter sido roubados.
Em agosto deste ano, quase 100 anos após a descoberta do túmulo do “Faraó Menino”, uma carta tornada pública veio suportar suspeitas de longa data. Os novos indícios sugerem que o arqueólogo britânico Howard Carter terá sido o saqueador.
Agora, um novo estudo identificou alguns dos artefactos que estavam perdidos há décadas e localizou-os em museus e leiloeiras nos EUA e no Reino Unido, escreve a Discover Magazine. A investigação também corroborou as suspeitas de que Howard Carter foi, de facto, o ladrão do túmulo do faraó egípcio.
A equipa de Carter demorou dez anos a catalogar e fotografar o conteúdo do túmulo antes de entregar os artefactos ao Museu Egípcio no Cairo. À data, a lei ditava que todos os artefactos retirados do túmulo pertenciam ao estado e só poderiam sair do país com a aprovação explícita do Estado.
Carter defendeu que entregou ao Estado egípcio tudo o que encontrou no túmulo e, qualquer coisa que lá faltasse, tinha sido saqueada bastantes anos antes do túmulo ser encontrado. Pode não ter sido bem assim.
A análise das imagens originais do túmulo e dos seus tesouros permitiu aos investigadores identificar e localizar vários artefactos que o arqueólogo pode ter roubado.
O líder da investigação, Marc Gabolde, da Universidade Paul-Valéry de Montpellier, em França, encontrou várias peças de joalharia há muito perdidas, bem como as suas localizações atuais em coleções de todo o mundo.
Por exemplo, contas de um colar que foi originalmente colocado no peito do cadáver do faraó apareceram no Museu de Arte Nelson-Atkins, nos Estados Unidos, bem como em leilões privados. Contas de outra peça foram, por sua vez, encontradas nas coleções do Museu de Arte de Saint Louis, nos Estados Unidos, e do Museu Britânico, em Inglaterra.
A carta incriminatória
As suspeitas sobre Carter ressurgiram este ano devido à já mencionada carta, que terá sido enviada a Carter em 1934 por Alan Gardiner, conceituado académico britânico que fez parte da equipa de escavações com a missão de traduzir os hieróglifos encontrados no túmulo de 3.300 anos
Segundo o egiptologista, linguista e filologista, Howard Carter ter-lhe-á mais tarde oferecido um amuleto, usado como oferenda aos mortos, tendo-lhe garantido que “não tinha vindo do túmulo” de Tutankhamon.
Gardiner mostrou o amuleto ao então diretor do Museu Egípcio no Cairo, Rex Engelbach, e ficou atónito quando percebeu que o amuleto, com características semelhantes às de outros artefactos encontrados no túmulo do faraó, tinha indubitavelmente sido de lá retirado.
O egiptologista enviou então uma carta a Carter, em que o confronta com o parecer de Engelbach — no qual o diretor do museu egípcio garante: “o amuleto que me mostrou foi indubitavelmente roubado do túmulo de Tutankhamon“.
“Lamento profundamente ter sido colocado numa situação tão desconfortável“, diz Gardiner na sua carta ao arqueólogo. “Naturalmente, não disse a Engelbach que a tinha obtido através de si”.