Resíduo Zero do Continente “é um novo embuste”

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(dr) Húmus

Certificação ‘Resíduo Zero’ levanta duas questões: o resíduo nunca é zero e o que está em causa é a “exigência dos clientes”.

O alerta foi deixado há poucos dias pela Húmus Agricultura Biológica, na sua página no Facebook.

O foco é a Certificação Resíduo Zero, apresentada como um sistema de produção agrícola sustentável com o objectivo de obter um “produto livre de resíduos de pesticidas“.

A apresentação da campanha avisa, no entanto, que o significado de “livre de pesticidas” fica dentro dos limites quantificáveis, ou seja, menos do que 0,01 partes por milhão.

Com a ideia de concretizar uma produção mais sustentável e de promover a biodiversidade, o sistema combina o uso de produtos fitofármacos de origem química e biológica, mantendo continuidade e qualidade durante todo o ano.

O Resíduo Zero está ligado ao Continente e, no Verão passado, já envolvia 44 produtores do Clube de Produtores Continente. E há produtos à venda com o símbolo do Resíduo Zero.

No entanto, avisa a empresa Húmus, esta é uma “nova campanha de desinformação que visa confundir o consumidor” e é um “novo embuste e a nova jóia da coroa dos grandes distribuidores”.

A Húmus vê neste projecto uma procura de “salvação”, por parte dos distribuidores, para os agricultores que “arrastaram para a miséria nos últimos anos”.

A nota começa por ressalvar que o resíduo zero não existe: “Nem mesmo em agricultores biológicos; infelizmente o nosso planeta já está tão contaminado que, mesmo um agricultor que nunca aplicou qualquer químico nas suas terras e produtos, é incapaz de garantir que os resíduos sejam zero; devido às chuvas, aos vizinhos e à contaminação dos lençóis freáticos”.

O segundo ponto criticado é o negócio, o mercado: “Os agricultores que aderem ao resíduo zero, não o fazem por convicção ou se quer por vontade de mudar o seu modo de produção. Fazem-no porque os seus clientes o exigem, porque o mercado pede”.

A empresa salienta que, mesmo tendo a Certificação Resíduo Zero, um produtor pode “e utiliza” todo o tipo de herbicidas, pesticidas e fungicidas, não adoptando qualquer prática agrícola sustentável.

A Húmus também critica quem “persegue o cheiro do dinheiro”. E explica: “Esta certificação, pura e simplesmente, não é exequível – toda a gente sabe isso. Quanto custa analisar os produtos que saem duma exploração destas? Sim, quando falamos de uma certificação resíduo zero que certifica produtos produzidos com recurso a químicos de síntese, é necessário recolher várias amostras ao longo das campanhas”.

Marco Vieira, da Húmus, acrescenta: “E o comunicado do Continente diz que, com o Resíduo Zero, os produtos chegam à loja abaixo dos limites legais de resíduos. Como se todos os outros produtos fossem ilegais!“.

Neste esclarecimento ao ZAP, Marco Vieira comentou que há uma “indignação” geral entre os produtores biológicos, que estão já a organizar um movimento para criar uma campanha “para explicar o que é agricultura biológica”.

O ZAP contactou a Sonae, no início da semana passada, para ter a sua visão sobre estas críticas. Ainda não recebemos qualquer resposta.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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3 Comments

  1. Há polícia às portas do s supermercados para prenderem quem tenta roubar-lhes uma pasta de dentes mas eles podem roubar à vontade os clientes com publicidade enganadora como esta!!! Quem é que fiscaliza as suas práticas?

  2. Tenho de voltar à escola primária aprender novamente o significado de “Zero” …. anos e anos de estudo para agora saber que zero pode ser alguma coisa. Brilhante! Muito bom artigo, tudo verdade. Uma vergonha…

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