Quem quer nadar com golfinhos-robô? Mal se nota a diferença

Edge Innovations

Delle, o golfinho-robô

Em San José, na Califórnia, as crianças deliram numa piscina ao ar livre, quando um golfinho dois metros de comprimento lhes aparece à frente.

Delle, um protótipo de golfinho robô, atualmente em teste em San José, tornou-se uma sensação mediática em 2020 devido às suas características bastante realistas.

O protótipo foi concebido pela Edge Innovations — a empresa de efeitos especiais de Hollywood que criou a baleia em “Free Willy”, a cobra em “Anaconda”, e o golfinho em “Flipper-Delle”. O objetivo da empresa era revolucionar as tradicionais demonstrações de animais em cativeiro.

O projeto começou há vários anos quando três aquários chineses se aproximaram da empresa como objetivo de cortar custos através da utilização de robôs, em vez de animais vivos, mas o esforço provou ser apelativo para os preocupados com o bem-estar dos cetáceos em cativeiro, avança a Hakai Magazine.

Roger Holzberg, o designer por detrás de Delle, realça que a equipa espera utilizar robôs para preservar o fascínio e a educação de se aproximar e educar pessoalmente um golfinho — incluindo animais de estimação e natação — sem correr o risco de prejudicar um animal. Em cativeiro, os cetáceos são propensos à depressão, problemas de pele, e têm uma esperança de vida mais baixa.

Mas a existência de Delle levanta uma questão: se lhe fosse dada a escolha, preferia ver um golfinho falso em vez de um verdadeiro?

Um novo estudo de David Fennell, investigador de ecoturismo da Universidade de Brock, em Ontário, publicado na Taylor & Francis Online, mostra que embora as pessoas possam inicialmente achar a perspetiva de um robô menos atraente, podem rapidamente mudar de ideias.

Para o estudo, que inclui exploração filosófica e pesquisa, Fennell perguntou a 15 estudantes que faziam parte da sua aula de turismo e ética animal se preferiam nadar com um golfinho robô ou um real.

Deste grupo de pessoas, 10 estudantes disseram que preferiam o encontro com um golfinho vivo por causa do fascínio de se conectarem com um animal selvagem.

O investigador sublinha que, tal como os seus estudantes, muitas pessoas preferem interagir com golfinhos vivos, apesar de compreenderem os danos causados aos animais em cativeiro.

Quando as pessoas vêm outras pessoas a desfrutar de encontros com animais em cativeiro, isso acaba por ser uma experiência normativa — torna-as mais propensas a pensar que a atividade é aceitável, apesar das suas implicações.

No entanto, depois de mostrar aos seus alunos o documentário “Lolita: Slave to Entertainment”, que documenta a vida de Lolita, uma baleia em cativeiro no Miami Seaquarium na Florida, e um vídeo promocional para Delle, criado pela Edge Innovations, a maioria dos alunos mudou de ideias.

“É bastante revelador que nove dos 10 tenham feito essa mudança radical para passar da experiência ao vivo para a experiência robótica”, realça Fennell. “É novamente o poder da educação, não é?”

Curiosamente, em vez de aceitarem apenas o golfinho robô como um substituto ao real, muitos dos estudantes de Fennell decidiram que tomar essa decisão lhes ia permitir ter uma experiência única.

Carl Cater, especialista em aventura e ecoturismo da Universidade de Swansea no País de Gales, admite que substituir golfinhos vivos por robôs é uma escolha positiva.

No entanto, o especialista realça que os visitantes dos aquários possam ter a falsa impressão de que os golfinhos selvagens são tão acessíveis e amigáveis como as réplicas. Holzberg diz que a programação educacional dos aquários deve ser clara ao explicar que os golfinhos selvagens devem ser deixados em paz.

Para Fennell, a criação de animais robóticos para aquários faz parte da redefinição da nossa relação com a vida selvagem. Para sermos turistas mais éticos, conclui o investigador, devemos abraçar esta forma futurista de encontro com animais.

Alice Carqueja, ZAP //

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