Uma planta redescoberta na Serra Leoa pode ajudar a salvar a produção de café, que se encontra ameaçada pelas alterações climáticas.
O mundo pode perder metade das suas melhores terras de cultivo de café num cenário moderado de alterações climáticas. A bebida favorita — e quase indispensável — de muitas pessoas está em risco. Há uma luz ao fundo do túnel, contudo. Uma planta “perdida” pode ser a solução.
Na Serra Leoa, Jeremy Haggar, investigador da Universidade de Greenwich, no Reino Unido, acredita ter descoberto aquilo que considera ser o futuro do café.
Conhecida pelos cientistas como Coffea stenophylla, a planta encontrada por Haggar já foi cultivada para produção comercial, mas desapareceu na maior parte do século passado.
Ao contrário dos grãos de café, tolera temperaturas mais altas, resiste a secas e infeções fúngicas e até tem um sabor melhor do que quase qualquer café no mercado.
Os impactos das alterações climáticas não serão distribuídos uniformemente pelo mundo e algumas regiões podem até beneficiar.
Por exemplo, partes da China, Argentina e Estados Unidos provavelmente tornar-se-ão mais adequadas para o cultivo de café. Pelo contrário, nações como Brasil e Colômbia verão as suas terras tornarem-se menos adequadas.
O Brasil, que atualmente é o maior produtor de café do mundo, poderá ver as suas terras mais adequadas para o cultivo de café diminuir em 79%.
Além disso, cerca de 60% das atuais culturas de café já estão ameaçadas de extinção.
A equipa de Haggar conseguiu colher grãos de stenophylla suficientes para enviar uma pequena amostra para ser testada na Europa. Lá, os grãos foram torrados, moídos e preparados na primeira chávena de café stenophylla em mais de meio século, escreve a Discover Magazine.
No ADN das espécies selvagens de café podem estar escondidos valiosos traços genéticos para sobreviver a condições mais severas, afastar patógenos e muito mais.
Se os investigadores não encontrarem uma espécie selvagem ou híbrida mais adequada ao calor e à seca, a oferta mundial de café de qualidade pode diminuir drasticamente.
Coffea stenophylla já foi cultivada em vários países da África Ocidental. No entanto, quando os investigadores chegaram à Serra Leoa, já tinha praticamente desaparecido da memória. Aliás, até a encontrarem na floresta no centro da Serra Leoa, os cientistas nem tinham a certeza se a espécie existia na natureza.
Entretanto, os investigadores já provaram o café e ficaram surpreendidos com o seu sabor. Um dos cientistas ingleses identificou notas de toranja, pêssego e chocolate de leite, e um interessante equilíbrio de acidez que deu ao café uma suculência rara.
Num teste de sabor às cegas, com amostras de arábica e robusta, a stenophylla esteve à altura. A maioria dos participantes achou que a nova espécie tinha um sabor semelhante. É um sinal de esperança para o futuro da stenophylla e do próprio café.
Ainda assim, há algumas limitações. São precisos três a quatro anos para as plantas atingirem a maturidade e ainda é preciso investigar mais antes de a stenophylla chegar aos grandes produtores. Alguns especialistas estimam que seja necessário, pelo menos, mais uma década até que a planta “perdida” chegue aos mercados internacionais.