Passamos um terço da vida a dormir e um quarto desse tempo a sonhar. Uma pessoa que viva cerca de 73 anos sonha durante mais de seis.
Embora o sonho desempenhe um papel central nas nossas vidas, sabemos pouco sobre o porquê de sonharmos ou sobre a forma como os sonhos são criados. Mais importante: ainda não sabemos qual o significado dos sonhos para a saúde – especialmente para a saúde do cérebro.
Numa análise publicada recentemente na ClinicalMedicine, da Lancet, o investigador Abidemi I. Otaiku revelou que ter sonhos frequentes – mais precisamente pesadelos, que nos fazem acordar – durante e a partir da meia idade pode estar associado a um risco acrescido de desenvolver demência.
A investigação reúne dados de três estudos norte-americanos sobre saúde e envelhecimento, englobando 600 pessoas com idades compreendidas entre os 35 e os 64 anos e 2.600 pessoas com 79 ou mais anos. Os participantes foram seguidos durante nove anos e cinco anos, respetivamente.
O investigador descobriu que os participantes de meia-idade que relatavam pesadelos semanais tinham quatro vezes mais probabilidade de sofrer um declínio cognitivo (precursor da demência) durante a década seguinte, enquanto que os mais velhos tinham o dobro da probabilidade de serem diagnosticados com demência.
Concluiu também que a ligação entre os pesadelos e a demência futura era muito mais forte entre os homens do que entre as mulheres. Os homens com mais idade com pesadelos semanais tinham cinco vezes mais probabilidade de desenvolver demência do que aqueles que não relatavam pesadelos.
Nas mulheres, o aumento do risco era de 41%. De acordo com o Conversation, um padrão semelhante foi encontrado no grupo de meia-idade.
Estes resultados sugerem que os pesadelos frequentes podem ser um dos primeiros sinais de demência. Alternativamente, continuou o artigo do Conversation, podem indicar que pesadelos constantes são a raiz da demência – a sua causa.
Dada a natureza deste estudo, não é possível ter a certeza qual destas teorias é correta, referiu Abidemi I. Otaiku. No entanto, os resultados permanecem os mesmos: ter pesadelos regulares durante a meia-idade e na terceira idade pode estar ligado a um risco acrescido de desenvolvimento da demência.
Noutro estudo, o mesmo autor concluiu que os pesadelos são um sintoma que aparece alguns anos antes de outros sinais de Parkinson, como os tremores ou a dificuldade nos movimentos, especificamente entre os adultos mais velhos.
A boa notícia é que os pesadelos recorrentes são tratáveis. Descobertas recentes sugeriram que o tratamento pode ajudar a retardar o declínio cognitivo e a prevenir o desenvolvimento da demência em algumas pessoas.