Porque a música suaviza a dor: estudo encontra resposta numa ligação neural

Equipa de neurocientistas centrou-se na música que é emitida apenas 5 decibéis acima do ruido ambiente. A dor quase desaparece.

Há muitos anos que se comenta que ouvir música faz bem (e criar música também não faz nada mal).

Há mesmo muitos anos que se fala sobre isso: Platão dizia que a música é “o grande remédio da alma”.

A música faz bem. E não é só à alma: o nosso humor pode mudar por causa de uma música, a ansiedade baixa, ajuda no exercício físico.

Às vezes, ouvir uma determinada música – estando ou não à espera dela – melhora imediatamente o nosso dia, a motivação, o entusiasmo para aquele dia.

E, às vezes, a música suaviza a nossa dor. Até podemos sentir dor física em algum ponto do corpo mas a música parece que faz desaparecer (ou quase) essa dor.

Foi nisso que uma equipa de neurocientistas se centrou. E descobriu que música suave, emitida 5 decibéis acima do ruído ambiente, reduz substancialmente a dor nos humanos.

O portal Big Think relata que, de acordo com essa investigação, há uma ligação neural invulgar entre as regiões auditivas e o processamento da dor no cérebro.

A origem chama-se Wallace J. Gardner, um dentista que inovou há 62 anos. Durante as suas consultas, a anestesia foi música: auscultadores que soltavam música ou ruído, que funcionaram como efeitos analgésicos.

Cerca de 5 mil consultas foram realizadas desse modo, nos anos seguintes. E em 90% dos casos não foi mesmo preciso injectar qualquer dose de anestesia.

E entretanto a evidência científica foi mostrando que as músicas, ou outros sons, também suavizam em momentos de cirurgia, de parto, e em pessoas com cancro.

Mas como é que o som bloqueia a dor?

Sem resposta concreta para isso, neurocientistas da China e dos Estados Unidos da América lançaram-se na investigação.

Como a comunidade científica não manipula neurocircuitos em seres humanos, foram utilizados ratos.

Os animais ouviram uma música original de Bach, uma mistura confusa e “ruidosa” de uma música de Bach e white noise – muito utilizado para adormecer bebés.

Todas as faixas reduziram a dor. Mas com uma condição: teriam de ser reproduzidas num volume 50 decibéis (dB), ou seja, o volume de uma conversa tranquila, numa biblioteca por exemplo.

Depois, os especialistas foram experimentando. Uma consulta no dentista é algo ruidosa; por isso, deixaram o silêncio do seu laboratório (45dB) e aumentaram o ruído ambiente da sala para 57dB.

Porquê? Porque é mais importante a diferença entre o volume da música e o ruído da sala onde está a ser reproduzida a música, do que o volume da música. Contexto. O volume da música só pode ser analisado se soubermos o contexto, o ambiente em que está a ser reproduzida.

Voltando à experiência, a sala passou a ter um ambiente com 57dB. A sensibilidade à dor baixou quando a música passou a ter um volume de 62dB. Se o ruído no laboratório passasse a ter volume de 30dB, a música baixava para 35dB, para ter efeito.

Ou seja, a “anestesia” nos ratos surgia sempre quando o volume da música era 5dB mais elevado do que o volume do ruído do laboratório.

Tentando perceber a origem desta ligação, os neurocientistas verificaram algo na rota, como se fosse um caminho surpreendente, entre o tálamo e córtex auditivo – a zona do cérebro que recebe e processa informações sobre o som.

É que, quando começava a ouvir-se a música 5dB acima do ambiente, a tal música suave, deixaram de ser transmitidas informações nessa “rota”.

Sons ou música de baixo volume são um obstáculo nas comunicações directas entre o córtex auditivo e o tálamo. Assim, reduz-se o processamento da dor no tálamo.

ZAP //

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