Grupo quer utilizar espaço como local de cura para as feridas latentes que os Estados Unidos ainda sofrem decorrentes do racismo.
A morte de George Floyd, em maio de 2020, fez ressurgir na sociedade norte-americana a discussão em torno do racismo e de formas como o combater – numa altura em que Donald Trump ainda estava no poder e as divisões sociais eram bem latentes. Os meses que se seguiram ficaram marcados, por exemplo, pela retirada de diversas estátuas e monumentos que celebravam os heróis da Confederação, os quais lembravam diariamente os seus habitantes do passado racista que o país teve.
Em linha com este movimento, um grupo de artistas texanos e algumas organizações locais estão a reclamar a posse de um edifício que outrora pertenceu ao Ku Klux Klan. O grupo intitulado Transform 1012 N. Main Street (T1012) – numa referência à morada do edifício – conseguiu recolher donativos suficientes para comprar a estrutura, considerada a mais antiga sede do KKK no país.
De acordo com o Smithsonian Mag, ali terão acontecido espetáculos de trovadores, prática de marcha e outros eventos KKK no final da década de 1920. Agora, os planos passam por transformar o edifício num centro comunitário e um espaço dedicado às artes que possa inspirar momentos “de partilha e de cura“.
A iniciativa surgiu quando Adam W. McKinney se começou a interessar pelo assassinato de Fred Rouse, um cidadão negro linchado por uma multidão branca em Fort Worth em 1921. McKinney, professor de dança e bailarino clássico, dedicou-se a aprender sobre a antiga sede do grupo em Fort Worth, para descobrir que a estrutura ainda estava de pé. Foi neste contexto que fundou a DNAWORKS, uma organização de artes e serviços, capaz de dar uma nova vida ao edifício, completamente oposta à anterior.
“Compreendemos intuitivamente o poder de transformar um momento de transformar um monumento ao ódio e à violência num espaço de justiça reparadora“, explicou o responsável à mesma fonte. No entanto, pouco tempo depois dos planos de conversão terem sido revelados, os seus donos pediram permissão para avançaram com a demolição do edifício — apesar de os serviços municipais serem obrigados a explorar outras alternativas.
Foi através desta quadro legal que os ativistas conseguiram reunir donativos e finalmente comprar o espaço — processo que finalmente foi concluído em janeiro.
“Acreditámos, e ainda acreditamos, que é inapropriado demolir o edifício porque sentimos que se perderia uma história de racismo, violência de terror racial e supremacia branca”, explicou um representante do grupo ao ARTnews. “Ao fazê-lo, a recorrência seria mais fácil de reproduzir“.
Com data de construção de 1924, o edifício é composto por tijolos que simbolizavam “mais uma forma de comportamento policial, movimento e cultura” e mostrou “como a arquitetura é capaz de violência“, de acordo com o site T1012. A sua localização também é estratégica: um bairro de cidadãos negros, hispânicos e imigrantes que tinham de passar diariamente pelo edifício e ser relembrados do seu simbolismo. Ainda de acordo com o Smithsonian Mag, a comunidade de Fort Worth chegou a ter um dos maiores grupos do KKK dos Estados Unidos da América.
Desta forma, a mesma população que outrora era vítima e aterrorizada pelos que frequentavam o espaço, são agora os seus proprietários, com propósitos muito mais nobres que os anteriores. Ali nascerá uma incubadora de pequenas empresas e um espaço para potenciar a criatividade, assim como espaços de lazer e de trabalho para artistas em residência.