O leite materno é o alimento perfeito para bebés, mas nem todas as mães são capazes de amamentar. Com a adoção, por exemplo, os pais não têm essa opção.
Para tentar combater esta situação, a BIOMILQ, situada na Carolina do Norte, está a trabalhar para criar “leite humano” fora do corpo.
Leila Strickland, co-fundadora e diretora científica da BIOMILQ, foi a primeira a ter essa ideia, em 2013, depois de ter ouvido falar do primeiro hambúrguer do mundo cultivado em laboratório.
Formada em biologia celular, Strickland procurou compreender se uma tecnologia semelhante podia ser utilizada para a cultura de células produtoras de leite humano, de acordo com uma entrevista à CNN Business.
Strickland tinha-se esforçado por produzir leite materno suficiente para o seu primeiro filho. “Muitas mulheres estão a lutar com este problema“, sublinha.
Globalmente, apenas um em cada três bebés recebe tanto leite materno nos seus primeiros seis meses como os especialistas recomendam, segundo a Organização Mundial de Saúde. Em vez disso, muitos pais confiam na fórmula.
A indústria do leite em pó valia mais de 52 mil milhões de dólares em 2021, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor International.
Muitas vezes baseada no leite de vaca em pó, a fórmula é “capaz de satisfazer muitas das necessidades nutricionais”, sublinha Strickland, mas não pode replicar “a complexidade do leite humano“.
Strickland refere ainda que o produto da BIOMILQ, em comparação, corresponde melhor ao perfil nutricional do leite materno do que a fórmula, com proporções mais semelhantes de proteínas, hidratos de carbono e gorduras.
A equipa da BIOMILQ criou o seu produto a partir de células retiradas de tecido mamário humano e leite, doado por mulheres da comunidade local.
Cultivaram as células em frascos, alimentando-as com nutrientes, e depois incubaram-as num biorreator que imita o ambiente num seio. Aqui, as células absorvem mais nutrientes e absorvem os componentes do leite.
A BIOMILQ está ainda a três ou cinco anos de levar um produto ao mercado, realça Strickland. Para começar, precisa de cultivar células mamárias a uma escala muito maior — e a um custo mais baixo.
A empresa também precisa de convencer os reguladores de que o produto é seguro para os bebés, uma tarefa que é especialmente desafiante para uma nova categoria alimentar, como os produtos de leite humano cultivados em laboratório.
“Não existe propriamente um quadro regulamentar“, nota Strickland.
Courtney Miller, consultora de lactação, e apoiante das mães que amamentam, concorda que o leite cultivado em células não é um “substituto do leite materno”.
No entanto, Miller acredita que essa opção pode oferecer aos pais “outra escolha”, particularmente quando se trata de adoção ou de barrigas de aluguer.
“A fórmula neste momento é a única opção nestes casos, a menos que sejam capazes de obter doação de leite materno”, diz Miller.
O acesso ao leite do doador pode ser difícil. Nos Estados Unidos, alimentar um recém-nascido com leite materno de um banco de leite pode custar até 100 dólares por dia. Encontrar um doador online é muitas vezes mais barato, mas acrescenta preocupações de segurança.
Miller também acredita que a BIOMILQ pode promover o estudo científico do leite materno. Ela doou algum do seu próprio leite para o projeto, na esperança de que a sua investigação possa conduzir a novos avanços na nutrição infantil.