“Isto, aquilo, ali e aqui”. Depois de “pai” e “mãe”, são as primeiras palavras que os bebés aprendem

Investigadora acompanhou uma comunidade de cerca de 5.000 pessoas que depende da agricultura de subsistência,acompanhando crianças com 1 a 4 anos de idade a brincar e a interagir com os seus educadores.

Nas mais variadas línguas do mundo, as palavras que ajudam os cuidadores de bebés a crianças pequenas a dirigir as suas atividades e a captar atenção são as mais prováveis de serem aprendidas primeiro. De acordo com um novo estudo, considerado o maior de sempre sobre o tema, palavras como “isto” ou “aquilo” foram documentadas como sendo predominantente usadas em inglês, espanhol ou mandarim, línguas que têm simples para demonstrações de ações.

Esta relação foi deita por Aamalia Skilton, investigadora na área da linguagem, que observou padrões semelhantes em 45 falantes de Ticuna, no Peru, sugerindo também a forte vontade das crianças em atrair atenção. Esta tendência é registada logo nas primeiras palavras que os bebés vocalizam, independentemente das diferentes línguas e sistemas que estas possam ter.

“As crianças aprendem [pronomes] demonstrativos para chamar a atenção para objetos, recorrendo a palavras como “isto/aquilo” ou “aqui/ali” a partir de baixas idades, quando sabem apenas poucas palavras. Como tal, a investigadora responsável aponta que estas têm o “papel principal” no processo de fala e comunicação dos mais pequenos, pode ler-se no artigo “Learning Speaker- and Addressee-Centered Demonstratives in Ticuna”, publicado na última semana no Journal of Child Language.

Estas são uma das principais ferramentas para comandar o que os especialistas chamam de atenção conjunta, a qual nos permite rotular objetos com nomes, coordenar as nossas ações e cooperar. “Partilhar a atenção é a infraestrutura base para o resto da interação linguística e social”, explicou a investigadora.

No caso da língua inglesa, existem apenas dois demonstrativos primários (“isto” e “aquilo”), mas algumas línguas chegam a ter até uma dúzia. A Ticuna, falado por cerca de 69 mil indígenas que vivem no Peru, Colômbia e Brasil, apresenta seis demonstrativos, quatro dos quais foram estudados devido à sua utilização mais comum.

Durante mais de um ano em Cushillocococha, no Peru, numa comunidade de cerca de 5 mil pessoas que depende da agricultura de subsistência, Skilton acompanhou crianças com 1 a 4 anos de idade a brincar e a interagir com os seus educadores. Analisou o desenvolvimento da língua Ticuna, capturado quase 15 horas de registos de vídeo.

Apesar dos seus pequenos vocabulários, 12 das 14 crianças de com ano de idade observadas no estudo disseram “isto/isto” ou “aqui/ ali”, demonstrando a referida vontade de partilhar a atenção. Skilton apontou que a investigação confirma que os prestadores de cuidados podem esperar que as crianças com cerca de 12 a 18 meses comecem a usar essas palavras “independentemente da língua que falem”.

Mas o tipo de demonstrativos utilizados mostra que embora as crianças muito pequenas estejam ansiosas por partilhar a atenção, estas têm dificuldade em compreender as perspectivas daqueles que com elas passam tempo. As crianças Ticuna, por exemplo, aprenderam demonstrativos “egocêntricos” – equivalentes a “isto/aí perto de mim” – cerca de dois anos antes dos chamados demonstrativos “interactivos” como “aquilo/aí perto de ti“. Utilizaram também essas palavras egocêntricas com mais frequência do que os adultos, representando até 15% de todas as palavras faladas.

Segundo o Science Daily, Skilton planeia regressar ao Peru para continuar a sua investigação que constitui o primeiro estudo abrangente do desenvolvimento da atenção conjunta num contexto não ocidental.

ZAP //

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