Comício na capital marcou um ponto de viragem numa campanha discreta, na qual o presidente francês tem apostado em reforçar a sua imagem de representante europeu contra a invasão russa à Ucrânia.
O Presidente Emmanuel Macron, candidato às eleições presidenciais de 10 de abril, pediu hoje aos franceses mobilização para combater o racismo e a extrema-direita, com milhares de pessoas a deslocarem-se ao seu único comício de campanha.
Foi em apoteose que mais de 30 mil pessoas receberam Emmanuel Macron na sala La Défense Arena, junto a Paris. Esta ação de campanha acontece numa altura em que Macron está à frente das sondagens para a primeira volta, mas a segunda classificada, Marine Le Pen, nunca esteve tão perto e o candidato alertou para o perigo desta proximidade.
“Em muitas eleições, o que parecia impossível aconteceu. Não quero nem arrogância, nem derrotismo, quero uma mobilização geral, vontade e ação. […] Nós habituámo-nos, o perigo extremista existe há muitos anos e o ódio e a verdade alternativa banalizaram-se no debate político. Nós habituamo-nos a ver desfilar nalgumas televisões autores antissemitas, racistas. Não os assobiemos, vamos combatê-los com as nossas ideias”, disse Emmanuel Macron à multidão, que agitava cartazes com o slogan “Avec Vous”, (“Convosco”, em português)
Nas bancadas, mais do que apoio ao Presidente, os franceses presentes mostravam admiração pelos cinco anos de mandato de Emmanuel Macron, esperando que continue à frente do Eliseu. “Estar aqui é algo evidente para mim. Emmanuel Macron fez um mandato bem-sucedido, apesar das dificuldades da covid-19, dos ‘coletes amarelos’, a guerra na Ucrânia. É o homem que a França precisa, é o homem do nosso futuro”, afirmou Fahsia, que apoia o Presidente desde a sua eleição em 2017 em declarações à Lusa.
Para esta apoiante da região parisiense, a vitória está garantida, embora considere que a comunicação social francesa tem dado demasiado destaque aos candidatos dos extremos, o que tem confundido os franceses que ainda não sabem em quem votar. Já para o círculo mais próximo do Presidente, nada está garantido. Ludovic Mendes, deputado lusodescendente da maioria de Emmanuel Macron, considerou que há uma “boa dinâmica” na campanha, mas que é preciso continuar a mobilizar.
“Nada é certo, a abstenção pode ser muito forte, portanto claro que há riscos. É o momento de mobilizar à nossa volta. As sondagens estão sempre a mudar e a única coisa que temos a certeza é que temos uma boa dinâmica. Estamos aqui para continuar a combater”, disse o deputado presente na La Défense Arena.
O contexto em que esta eleição ocorre é diferente, com Emmanuel Macron a ter preferido estar mais recuado face aos outros candidatos, com a sua campanha a acontecer maioritariamente com pequenas reuniões animadas por ministros e secretários de Estado, uma escolha que coincidiu com a desatenção dos franceses por este período eleitoral devido à guerra na Ucrânia.
“As pessoas estão realmente menos mobilizadas por causa da situação na Ucrânia e, por isso, tivemos de fazer uma campanha mais discreta, com menos participação do Presidente. Portanto, é muito importante que ele esteja aqui hoje para mostrar o programa”, declarou Juliette, de 23 anos, que integra o partido do Presidente, República em Marcha, e que se deslocou de Bordéus para assistir ao comício.
Cerca de quatro em 10 franceses ainda não sabem em quem votar, levando muitos analistas a pensar que os recordes da abstenção podem ser batidos nesta primeira volta da eleição. Alexandre é um desses indecisos e, com 21 anos, este é o seu primeiro comício de campanha e também a sua primeira eleição presidencial.
“É um comício grande, há muita gente e não estava à espera de nada disto. Estou agradavelmente surpreendido. Vim porque Macron é o candidato com o qual mais estou de acordo e acho que ele é próximo dos jovens. Estou aqui para descobrir o seu programa”, explicou.
O comício foi pensado ao detalhe, com o palco a ser instalado no centro da sala, como se de um concerto se tratasse, com uma grande participação de jovens que gritaram durante as quase três horas de discurso e não pararam de abanar milhares de bandeiras da França e da Europa. Ao entrar na sala, Macron teve mesmo direito a fogo-de-artifício.
Toda esta produção digna de Hollywood não interessa a Christelle, que veio até ao comício por causa do que o Presidente fez efetivamente no seu mandato e as propostas do seu programa. “Ele agiu muito bem durante a crise sanitária, melhor do que a maior parte dos países europeus, a nossa taxa de desemprego baixou e sou favorável à proposta de aumentar a idade de reforma para 65 anos. É importante trabalharmos mais para contribuirmos para os cofres do Estado”, defendeu esta enfermeira.
Na primeira volta das eleições em 2017, Christelle votou Jean-Luc Mélenchon, e na segunda volta em Macron. Esta francesa considera que não poderia continuar a apoiar o líder da extrema-esquerda porque “não é realista” e também não vê qualquer possibilidade de vitória de Le Pen.
“A Marine Le Pen nunca vai ser eleita. Nós vamos fazer uma barreira. Não podemos aceitar uma extremista à frente do nosso país, com as ideias que ela tem. A França é um país aberto, laico. As mentalidades mudaram e ela devia aceitar isso”, concluiu.
// Lusa