Descoberta surpreendente revela dunas a “respirar” vapor de água

As paisagens desertas não são tão “sem vida” como parecem. Dunas de areia não só podem crescer, como mover-se e interagir umas com as outras. Um estudo recente sugere que também podem “respirar” vapor de água.

Utilizando uma sonda super-sensível que demorou décadas a ser inventada, os investigadores mostraram que as dunas de areia inalam e exalam regularmente pequenas quantidades de vapor de água.

As inalações são mais difíceis de conseguir quando a areia é mais seca. Mas quando o vento corre sobre a superfície de uma duna, transporta a camada superior, criando uma mudança rápida na humidade superficial e na pressão.

Como resultado, “ondas evanescentes de humidade” da atmosfera acima fluem para baixo, de acordo com a Science Alert.

A sonda utilizada para detetar este fluxo é tão sensível à humidade, que pode captar pequenas películas de água sobre um único grão de areia.

Quando mergulhado numa duna no deserto do Qatar, o instrumento foi capaz de medir a temperatura, radiação e humidade no ambiente, numa resolução à escala milimétrica, em apenas 20 segundos.

Estas medições foram repetidas a cada 2,7 minutos, durante dois dias inteiros, acumulando uma enorme quantidade de dados.

Os autores do estudo, publicado no Journal of Geophysical Research: Earth Surface a 21 de março, não conhecem outros instrumentos que possam analisar uma duna de areia com tanta resolução espacial ou temporal.

Em combinação com dados de velocidade e direção do vento, bem como temperatura e humidade ambiente, os investigadores descobriram um comportamento extremamente subtil da areia no deserto.

Ao contrário do calor, que é conduzido através de grãos de areia individuais, o vapor de água parece movimentar-se entre os grãos.

Os poros de uma duna de areia, portanto, transportam a humidade da superfície para baixo, e estes caminhos são feitos e refeitos à medida que o vento sopra.

“O vento corre sobre a duna e, como resultado, cria desequilíbrios na pressão local, o que literalmente força o ar a entrar e a sair da areia. Assim, a areia respira, como um organismo respira”, explica Michel Louge, engenheiro mecânico da Universidade de Cornell.

Esta respiração pode explicar o que permite aos micróbios viverem nas profundezas das dunas de areia, mesmo quando não há água líquida disponível.

Curiosamente, na superfície da duna, a sonda mediu menos evaporação do que os cientistas previam. Para uma região tão hiper-árida, a lixiviação da humidade da duna de areia para a atmosfera foi um processo químico relativamente lento.

“Esta é a primeira vez que se podem medir níveis tão baixos de humidade”, sublinha o engenheiro mecânico.

A sensibilidade da nova sonda é um feito de tecnologia que poderia permitir aos cientistas medir com maior precisão como as terras agrícolas se transformam em deserto, um processo exacerbado pelas alterações climáticas.

O futuro da Terra, se continuarmos assim, é um deserto“, adverte Louge.

Saber mais sobre como funcionam os desertos poderia ser realmente útil, e não apenas para uma melhor compreensão do nosso próprio planeta.

Sondas que possam medir sensivelmente a humidade dentro da areia poderiam ajudar os especialistas a encontrar sinais invisíveis de água em Marte, por exemplo.

Só porque o deserto parece deserto à superfície, não significa que não haja vida escondida lá em baixo.

Alice Carqueja, ZAP //

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