Os cães podem não ser capazes de se reconhecer ao espelho, mas isso não significa que os nossos amigos de quatro patas não tenham algum nível de autoconsciência.
Pesquisas recentes, publicadas na PubMed, mostram que os cães podem reconhecer o seu próprio cheiro único, como se estivessem a olhar para um “espelho olfativo“.
O estudo, publicado na Nature, em 2021, descobriu que os cães também podem ter uma surpreendente consciência do seu corpo como um obstáculo.
A consciência corporal é a capacidade de pensar no seu corpo como um objeto explícito em relação a outros objetos à sua volta.
De acordo com a Science Alert, é considerada um dos blocos fundamentais de construção da auto-representação.
No caso das crianças (humanas), este tipo de auto-consciencialização tem sido testado colocando-as com as mãozinhas pousadas sobre um cobertor onde estão sentadas. Se a criança conseguir perceber que tem de se levantar e remover o seu corpo como um obstáculo, é considerada “consciente do corpo”.
Normalmente, os bebés levam cerca de dezoito meses a um ano, até terem a capacidade mental para atingir este nível de autoconsciência.
Adaptando estes teste aos caninos, os investigadores têm tentado ver se estes animais também possuem tal nível de consciência corporal.
Anteriormente, um pequeno estudo publicado em 2019, descobriu que os cães têm alguma ideia do tamanho do seu corpo, e como isso tem impacto na sua orientação no mundo, mas o estudo feito o ano passado é o primeiro a investigar o reconhecimento do corpo como um obstáculo em geral.
Para o estudo, os investigadores usaram 32 cães de várias raças e tamanhos que satisfaziam os requisitos dos testes.
Os animais tinham que pegar num brinquedo e levá-lo ao seu dono, mas o brinquedo estava preso a um tapete no qual os cães estavam sentados. Ou seja, para os cães levarem o brinquedo ao seu dono, precisavam primeiro de sair do tapete.
Os resultados foram depois comparados com o que acontece quando o brinquedo está solto ou quando o brinquedo está ligado ao chão.
Quando os cães tentavam apanhar o alvo, não o conseguiam fazer, mas não sentiam uma força de elevação paralela debaixo das suas patas. Sem este “puxão” por baixo deles, os cães não saíam imediatamente do tapete, percebendo, corretamente, que a sua posição não era o problema.
Mas quando os cães sentiam um puxão no tapete, por baixo deles, foram muito mais rápidos a sair do tapete e a pegar no brinquedo.
Mesmo assim, não era apenas esta sensação que estava a dar dicas aos cães. Quando o brinquedo estava ligado ao chão, e um investigador puxava as patinhas do cão, com uma corda, o animal não saltava tão rapidamente do tapete.
Isto sugere que os cães podem compreender quando um puxão é feito a partir dos seus próprios esforços, e quando é feito um puxão que não esta relacionado com o desafio em questão.
Em resumo, os animais de estimação do estudo foram capazes de distinguir entre “o meu corpo é um obstáculo” e simplesmente “há um obstáculo.” Sabem também como mover instintivamente os seus corpos para superar os obstáculos com sucesso.
Os autores argumentam que a “resposta dos cães no teste principal pode ser explicada com base na consciência do seu corpo e na compreensão das consequências das suas próprias ações”.
Os elefantes são um dos únicos animais que passaram por testes semelhantes de “corpo como um obstáculo”. Durante um desses estudos, publicados na Nature, em 2017, os investigadores descobriram que os elefantes asiáticos saíram do tapete muito mais rapidamente quando tal era necessário para o seu sucesso numa tarefa.
Os resultados são semelhantes aos dos testes com caninos, mas ao contrário dos cães, os elefantes podem reconhecer-se num espelho.
O teste do espelho baseia-se na aparência visual, mas o teste do “corpo como um obstáculo” é sobre as próprias ações e as propriedades físicas do nosso corpo.
Os elefantes têm estes dois tipos de auto-reconhecimento descobertos. Os cães, ao que parece, podem ter apenas um.
Os investigadores concluem que “embora os cães não tenham passado no teste da marca de espelho, temos agora provas de que podem passar o corpo como um teste de obstáculo”.