Continente esquecido de há 40 milhões de anos foi descoberto

Alexis Licht / Grégoire Métais / CNRS

Local de escavações na Turquia

Um continente que existiu há cerca de 40 milhões de anos e era o lar de fauna exótica pode ter “preparado o caminho” para os mamíferos asiáticos colonizarem o sul da Europa.

O continente esquecido, que se localizava entre a Europa, África e Ásia, foi designado como de “Balkanatolia” pelos investigadores.

Segundo a Science Alert, tornou-se uma porta de entrada entre a Ásia e a Europa quando o nível do mar baixou e se formou uma ponte terrestre, há cerca de 34 milhões de anos.

“Quando e como a primeira vaga de mamíferos asiáticos chegou ao sudeste da Europa continua sem resposta“, escreve o paleólogo Alexis Licht no novo estudo, publicado em janeiro deste ano.

Há cerca de 34 milhões de anos, no final da época do Eoceno, um grande número de mamíferos nativos desapareceu da Europa Ocidental quando surgiram novos mamíferos asiáticos, num evento de extinção massiva, agora conhecido como o Grande Coupure.

Os recentes achados fósseis nos Balcãs, contudo, alteraram essa linha temporal, apontando para uma região “peculiar”, que parece ter permitido aos mamíferos asiáticos colonizar o sudeste da Europa até 5 a 10 milhões de anos antes da ocorrência do Grande Coupure.

Para realizar o estudo, Alexis Licht, investigador do Centro Nacional Francês de Investigação Científica, e a sua equipa, reexaminaram as provas de todos os locais fósseis conhecidos na área, que abrange a atual península balcânica e a Anatólia.

A idade destes sítios foi revista com base em dados geológicos atuais, e a equipa reconstruiu alterações paleogeográficas que ocorreram na região, que tem uma “história complexa de afogamento episódico e reemergência“.

As descobertas sugerem que Balkanatolia serviu de “trampolim” para os animais se deslocarem da Ásia para a Europa Ocidental, com a transformação da antiga massa terrestre do continente autónomo em ponte terrestre — e subsequente invasão com mamíferos asiáticos — coincidindo com algumas “mudanças paleogeográficas dramáticas”.

Alexis Licht / Grégoire Métais / CNRS

Balkanatolia há 40 milhões de anos, e nos dias de hoje

Há cerca de 50 milhões de anos, a Balkanatolia era um arquipélago isolado, separado dos continentes vizinhos, onde prosperava um conjunto único de animais distintos dos da Europa e da Ásia Oriental, de acordo com a análise.

Depois, uma combinação da descida do nível do mar, do aumento das camadas de gelo antártico e das mudanças tectónicas ligou o continente dos Balcãs à Europa Ocidental, há cerca de 40 a 34 milhões de anos.

Assim, os mamíferos asiáticos, incluindo roedores e mamíferos com quatro patas aventurarem-se para oeste e invadirem a Balkanatolia, como mostra o registo fóssil.

A equipa de investigação também descobriu fragmentos de um maxilar pertencente a um rinoceronte, num novo sítio fóssil na Turquia, com cerca de 38 a 35 milhões de anos.

O fóssil é o mais antigo deste tipo asiático descoberto na Anatólia até à data, e é anterior ao Grande Coupure, o que sugere que os mamíferos asiáticos estavam bem encaminhados para a Europa por via da Balkanatolia.

Este percurso do sul para a Europa através dos Balcãs era talvez mais favorável para animais aventureiros do que atravessar rotas de maior latitude através da Ásia Central, que na altura eram mais secas e mais frias, explicam os investigadores.

No entanto, lê-se no estudo que “a conectividade passada entre as ilhas balcânicas individuais e a existência desta rota de dispersão meridional continua a ser debatida”, e que a história, até ao momento “só é construída sobre fósseis de mamíferos e que ainda falta traçar uma imagem mais completa da biodiversidade balcânica passada”.

Muitas das mudanças geológicas que deram origem à Balkanatolia ainda não foram totalmente compreendidas, e é importante notar que esta investigação é apenas uma interpretação de uma equipa do registo fóssil.

O registo fóssil dos mamíferos e outros vertebrados que vivem nas ilhas é normalmente escasso e fragmentado, enquanto que o rico registo fóssil terrestre da Balkanatolia “proporciona uma oportunidade única para documentar a evolução e o desaparecimento das biotas das ilhas em tempo profundo”, conclui a equipa.

Alice Carqueja, ZAP //

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