Os glaciares têm, afinal, menos gelo do que se pensava – o que tem impacto na gestão dos recursos hídricos

(dr) Sam Herreid

Glaciares como o Yakutat, no sudeste do Alasca, estão a derreter desde o final da Pequena Idade do Gelo, influenciando terremotos na região

Com o menor tamanho dos glaciares, a água que neles existe, enquanto recurso consumido pelo homem, será menor, o que obrigará a uma gestão distinta.

Através de imagens de satélite, os cientistas conseguiram perceber que os maiores glaciares do mundo contêm atualmente menos gelo do que se pensava, isto de acordo com as conclusões de um estudo publicado na regista Nature Geoscience, esta semana. Com esta atualização, os valores apontados para a subida dos níveis de água do mar também diminuem, cerca de 7,6 centímetros. Ainda assim, alerta para os perigos que correm algumas comunidades que se precisam do degelo dos glaciares para preencher os seus rios ou irrigar os campos.

O problema é que perante a perspetiva de que os glaciares têm menos gelo, tal significará que a água deverá escassear também antes do expectável. O processo de degelo é algo natural e que ocorre todos os anos, no entanto, a subida das temperaturas estão a acelerá-lo e a causar uma maior retração dos glaciares. Entre 2000 e 2019, estima-se que estes rios de gelo perderam 5,4 biliões de toneladas.

No que respeita aos países, estes estão já a lidar com o desaparecimento dos glaciares, ainda com dificuldade. O Peru está a investir na dessalinização para compensar o declínio de água doce, ao passo que o Chile espera criar glaciares artificiais nas suas montanhas.

No entanto, e tal como nota Romain Millan, glaciologista da Universidade Grenoble Alpes e autor do estudo, apesar de todos os trabalhos de investigação feitos, “temos um pobre conhecimento de quanto gelo está verdadeiramente instalado nos glaciares”. Em pesquisas anteriores, por exemplo, procedeu-se à dupla contagem dos glaciares ao longo das periferias da Gronelândia e das placas de gelo da Antárctida, sobrestimando o volume de gelo.

O estudo aborda ainda o quão rápido os glaciares se estão a mover na paisagem. Estas medidas permitirão aos cientistas medir de forma precisa o volume, já que a forma como os glaciares fluem indica onde o gelo é grosso ou fino. Mas a recolha desta informação tem sido limitada pela tecnologia.

As imagens de alta resolução captadas via satélite, ao longo dos últimos anos, permitiram uma primeira análise de como 98% dos glaciares do mundo se estão a mover, desde pequenos glaciares nos Andes passando por alguns massivos, como os da Patagónia.

O trabalho analisou mais de 800 mil pares de imagens de glaciares captadas entre 2017 e 2018, e descobriu que muitos eram mais rasos do que havia sido noticiado anteriormente. Os cientistas estimam que agora existe menos 20% com potencial para derreter no oceano e elevar o nível do mar.

Neste momento, os glaciares são responsáveis por 1 mm de aumento anual do nível do mar, ou 30% do aumento anual. Os investigadores também descobriram que os Himalaias contêm 37% mais gelo do que o estimado anteriormente, enquanto os Andes continham 27% menos gelo. Os glaciares do Peru, por sua vez, perderam 40% da sua superfície desde 1970. “Isto irá colocar mais pressão sobre a água doce nos Andes”, disse o investigador. “Pelo contrário, a água estará mais segura nos Himalaias”.

ZAP //

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