A inclusão está cada vez mais presente na sociedade e a língua, como principal mecanismo de comunicação, não lhe fica indiferente. Perante a opção cada vez mais recorrente de algumas pessoas não-binárias de quererem ser tratadas por pronomes indefinidos, ou neutros, no que respeita ao género – por não se identificarem nem com o feminino nem com o masculino -, alguns dicionários já se começam a adaptar.
De acordo com as autoridades norueguesas, os dicionários da língua vão passar a incluir o pronome “hen“, como alternativa aos existentes da terceira pessoa: “hun” para o feminino e “han” para o masculino”. “Ao longo do tempo, temos visto que o uso do hen tem aumentando”, explicou Daniel Ims, do Conselho da Língua da Noruega. O responsável adiantou ainda que, apesar de o uso de pronomes neutros ser um tema discutido na comunidade linguística e gramatical norueguesa há algum tempo, os argumentos para a adição ao dicionário não refletiam os padrões de discurso da língua.
A Noruega está longe de ser o único país em que o assunto é debatido. Recentemente, em França, o ministro da educação, Jean-Michel Blanquer, acusou um dicionário de referência no país de copiar a “cultura woke norte-americana” por incluir uma entrada para a palavra “iel”, usada por pessoas não-binárias em França. Nos Estados Unidos, o dicionário Merriam-Webster, optou por usar uma definição singular e neutra no que respeita ao género para o pronome “they” em 2019, relembra o The Guardian.
O uso do “they” — eles, em português, para se referir a uma única pessoa cujo género é indefinido — começou pelos falantes de língua inglesa, mas os cidadãos não-binários noruegueses adotaram o termo num passado recente, com o equivalente “de”. “Há centenas de anos era normal usar o singular de para abordar pessoas de classes mais elevadas”, explicou Carl-Oscar Vik, de 18 anos, no sul da Noruega. “Ultimamente tem sido apenas uma questão de preferência“, apontaram.
Para Vik, o debate em torno do uso do pronome hen tem sido uma forma de aumentar a visibilidade das pessoas não-binárias na vida pública. “Acho que uma pessoa normal na rua não conhece ninguém que se identifique como não binário”, explicaram. “Mas espero que ao adicionarem hen ao dicionário possamos dar a conhecer a ideia, porque há muitas pessoas que não se sentem confortáveis com os pronomes que lhes são atribuídos mas que não têm as palavras para o descrever”.
Vik também esperam que o reconhecimento oficial dos pronomes neutros possam representar um primeiro passo no reconhecimento legal de um terceiro género. Já no que respeita ao dicionário norueguês, a alteração deverá estar concluída ainda na primavera ou, na pior das hipóteses, no início do outono, depois de uma consulta pública.