O que começou por ser uma “maioria reforçada” passou a “maioria absoluta” e deixou de o ser. Costa foi mudando de discurso ao ritmo das sondagens

Manuel de Almeida / Lusa

O secretário-geral do PS, António Costa.

O secretário-geral do Partido Socialista (PS), António Costa.

Sondagens pouco favoráveis ao PS obrigaram António Costa e companhia a mudar o discurso e a velocidade da campanha.

Após o chumbo do Orçamento do Estado para 2022, que motivou a dissolução da Assembleia da República, a narrativa escolhida do PS para a presente campanha eleitoral foi a de culpabilizar os antigos parceiros por recusarem um documento que consideravam ser “o mais à esquerda de sempre”. Mesmo assim, a expressão “maioria absoluta” não saía da boca de António Costa, que preferia expressões como uma “maioria sólida” ou uma “maioria reforçada” — talvez assombrado por uma entrevista que concedeu no passado em que explicou que os portugueses não eram fãs desta via.

No entanto, no debate a nove, transmitido pela RTP, o secretário-geral do PS admitiu que “a melhor solução é ter uma maioria absoluta“. O mesmo discurso foi adotado pela restante comitiva, que colou a maioria absoluta a “que garanta a estabilidade a quatro anos”. Mas talvez António Costa estivesse certo desde o início e os portugueses não gostam mesmo de maiorias absolutas, já que as sondagens ressentiram-se de imediato da escolha, com os socialistas a perderem terreno para os sociais-democratas como há muito não se via.

Como tal, a ordem foi para travar a fundo e inverter a marcha. Numa entrevista à Rádio Renascença, o secretário-geral dos socialistas já admitiu a hipótese de dialogar com todos, incluindo com os antigos parceiros de Geringonça. Houve também ajustes na campanha, com a agenda a ser reforçada, a gravata a ficar em casa e uma moderação nos ataques à esquerda. O PSD e a direita passaram a ser os principais alvos numa estratégia de bipolarização, opondo muitas vezes as medidas do programa de Rio às suas, mas também colando os sociais democratas à esquerda.

À entrada do fim de semana eleitoral, são mais as dúvidas que as certezas, tanto no que respeita às votações como ao futuro de António Costa como líder do partido, já que o próprio fez saber que caso perca as eleições — caso o PS não seja o partido mais votado — que sairá, abrindo caminho para uma luta pela liderança dos socialistas.

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