Rostov apareceu nas notícias em muitos países, por causa de um documento invulgar. Mas a realidade não é exactamente o que foi retratado nos jornais.
Um casamento em Rostov, na Rússia, não seria notícia. Mas se algo invulgar passa a ser lei num casamento em Rostov, isso passa a ser notícia. Agora desmentida.
A região do sudoeste do território russo, que faz fronteira com a Ucrânia, apareceu nos jornais de muitos países – incluindo Portugal – por causa de um documento oficial sobre as regras, os comportamentos a ter, durante os casamentos.
Um jornal daquela região, Donnews, indicou que foi aprovado na Assembleia Legislativa um documento destinado a todos os cartórios regionais.
As novas regras indicam que, desde logo, é obrigatória a inclusão de uma bandeira e de um brasão de armas da Rússia, na decoração.
A cerimónia deve ser “solene”, o discurso do funcionário do cartório deve ser solene – mas, no máximo, o casamento dura 40 minutos.
Durante o evento, é proibido andar a circular e entrar ou sair do local da cerimónia. Também é proibido – logicamente – beber álcool, comer e fumar dentro do salão.
Depois, surgem as regras invulgares: ninguém pode ter um casaco vestido, ninguém pode ter sapatos sujos; mocilhas ou sacos são proibidos; ninguém pode falar alto, ninguém pode falar ao telemóvel; e ninguém pode…rir. Chorar? Soluçar? Não há referências.
“É uma ocasião alegre, mas não se devem empolgar. Não há nada engraçado na cerimónia”, lê-se nas citações.
Não é bem assim…
Olga Isaenko, chefe do departamento do cartório de Rostov, já reagiu no Instagram e assegurou que o cenário não é bem este.
Olga explicou que qualquer pessoa pode rir num casamento. A questão é o volume: “As palavras foram tiradas do contexto, provavelmente com a intenção de provocar uma reacção negativa. Os jornalistas gostam de grandes manchetes”.
“Na verdade, retire a palavra-chave, que neste caso é «alto», e tudo torna-se ridículo. E mesmo que tudo esteja correcto no próprio artigo, a maioria das pessoas não lê o conteúdo, as pessoas ficam-se pelo título. Por isso, várias pessoas escrevem comentários negativos, sem entender o contexto”, continuou a responsável.
A chefe do departamento prolongou a sua explicação em relação ao detalhe: “O texto diz que não são permitidas: conversas em voz alta (inclusive ao telefone), exclamações, risos. A palavra «alto» não se refere apenas às conversas. E uma “técnica legal” e as regras da língua russa não permitiram escrever esta frase de outra forma”. Ou seja, pode-se rir, mas não rir alto.
“A cerimónia sempre foi assim e assim continuará. Apenas não tinha sido aprovado por um documento oficial”, afirmou.
Olga Isaenko reforçou, no entanto, uma ideia que surgiu nos artigos originais: “Claro que o casamento é um momento alegre, mas não há necessidade de substituir conceitos. Durante a cerimónia as pessoas sorriem, os pais podem chorar. Sim, e os noivos, às vezes. Mas não há nada engraçado sobre a cerimónia. Não conheço nenhuma cerimónia solene durante a qual é permitido rir. Este é um momento muito reverente e solene”.
O documento em Rostov não é inédito na Rússia. Samara e Nizhny Novgorod já tinham indicações semelhantes.