Cientistas da Universidade de Bath otimizaram o peptídeo 4554W, conhecido por evitar o erro proteico que dá origem à doença de Parkinson, tornando-o um forte candidato ao desenvolvimento futuro de uma cura.
Segundo a SciTechDaily, uma molécula que pode prevenir a doença de Parkinson foi aperfeiçoada por cientistas da Universidade de Bath, e tem p potencial de se tornar um medicamento eficaz no tratamento desta doença neurodegenerativa incurável.
De acordo com Jody Mason, professor que liderou a investigação do Departamento de Biologia e Bioquímica, “ainda há muito trabalho a fazer, mas esta molécula tem o potencial de ser precursora de um fármaco”.
“Hoje só existem medicamentos para tratar os sintomas de Parkinson. Esperamos desenvolver um medicamento que possa devolver a saúde às pessoas, mesmo antes de os sintomas se desenvolverem”, acrescentou o docente.
A doença de Parkinson é caracterizada pela proteína alfa-sinucleína (αS) em células humanas “desorganizadas”, abundante em todos os cérebros humanos.
Depois de se “desdobrar”, acumula-se em grandes massas, conhecidas como corpos de Lewy. Estas massas consistem em αS agregados que são tóxicos para as células cerebrais produtoras de dopamina, provocando a sua morte.
É esta queda na dopamina que desencadeia os sintomas de Parkinson, à medida que os sinais transmitidos do cérebro para o corpo se tornam ruidosos, levando aos tremores característicos vistos nos doentes.
Os cientistas já analisaram um vasto conjunto de peptídeos, cadeias curtas de aminoácidos que são os blocos de construção das proteínas, para encontrar o melhor candidato que previna o agregado de αS.
Dos 209.952 peptídeos analisados em estudos anteriores, o peptídeo 4554W mostrou ser o mais promissor, inibindo o αS de se agregar em experiências de laboratório, tanto em soluções como em células vivas.
No mais recente estudo, publicado a 3 de dezembro na Science Direct, o mesmo grupo de cientistas aperfeiçoou o peptídeo 4554W para otimizar a sua função.
A nova versão da molécula, 4654W(N6A), contém duas modificações na sequência amino-ácida parental, e provou ser significativamente mais eficaz do que a sua predecessora na redução da agregação e toxicidade de αS.
No entanto, ainda que a molécula modificada continue a ter sucesso em experiências de laboratório, a cura para a doença ainda está a muitos anos de distância.
Richard Meade, o autor principal do estudo, explicou que “as tentativas anteriores de inibir a agregação de alfa-sinucleína com pequenas moléculas têm sido infrutíferas, uma vez que são demasiado pequenas para inibir interações proteicas tão grandes”.
“É por isso que os peptídeos são uma boa opção — são suficientemente grandes para impedir a agregação da proteína, mas suficientemente pequenos para serem utilizados como droga”, realça.
“A eficácia do peptídeo 4654W(N6A) na agregação de alfa-sinucleína e sobrevivência celular em culturas é muito empolgante, pois mostra que agora sabemos onde visar a proteína alfa-sinucleína para suprimir a sua toxicidade“, nota o autor.
“Esta investigação não só conduzirá ao desenvolvimento de novos tratamentos para prevenir a doença, mas também está a revelar mecanismos fundamentais da própria doença, promovendo a nossa compreensão da razão pela qual a proteína se desdobra em primeiro lugar”, sublinha.
O docente acrescentou ainda que o próximo passo seria “levar este peptídeo para a clínica. Precisamos de encontrar formas de o modificar ainda mais, para que se assemelhe mais a um medicamento e possa atravessar membranas biológicas e entrar nas células do cérebro. Isto pode significar o afastamento dos aminoácidos naturais para as moléculas que são feitas no laboratório”.
Esta investigação pode também permitir avanços na a doença de Alzheimer, diabetes tipo 2 e outras doenças graves, nas quais os sintomas são desencadeados por uma “má administração” de proteínas.
Rosa Sancho, chefe de investigação na Alzheimer’s Research UK, acrescentou que “encontrar formas de impedir que a alfa-sinucleína se torne tóxica e danifique as células cerebrais pode dar um novo caminho aos futuros medicamentos para doenças como Parkinson e a demência com corpos de Lewy“.
“Estamos satisfeitos por termos apoiado este importante trabalho para desenvolver uma molécula que possa impedir que a alfa-sinucleína deixe de se desdobrar. A molécula foi testada em células de laboratório e necessitará de mais desenvolvimento e testes antes de poder ser transformada num tratamento. Este processo levará vários anos, mas é uma descoberta promissora que poderá abrir o caminho para um novo medicamento no futuro”, realça a docente.
“Atualmente não existem tratamentos para a doença de Parkinson, ou para a demência com corpos de Lewy, razão pela qual o investimento nesta investigação é crucial para todos aqueles que vivem com estas doenças“, conclui.