No Afeganistão, as mulheres que queiram viajar mais de 72 quilómetros precisam de ter acompanhamento de um parente próximo do sexo masculino.
Os talibãs anunciaram, este domingo, que as mulheres têm que ser acompanhadas por um parente do sexo masculino para realizarem viagens de longas distâncias.
Além disso, recomendaram aos motoristas que aceitem apenas as passageiras que tenham véu islâmico.
A recomendação, que circula nas redes sociais desde sábado, foi divulgada pelo Ministério para a Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício.
“As mulheres que viajem mais de 45 milhas [cerca de 72 quilómetros] não podem deslocar-se se não forem acompanhadas por um parente próximo”, reiterou o porta-voz do ministério Sadeq Akif Muhajir, em declarações à Agência France Presse (AFP), especificando que esse “parente próximo” deve ser um homem.
Desde agosto, quando reassumiram o controlo do território afegão, os talibãs impuseram várias restrições às mulheres em matérias como trabalho e educação.
Em setembro, o novo Governo talibã também anunciou que iria proibir as afegãs de praticarem modalidades em que possam expor o rosto ou o corpo.
“A nova ordem vai […] tornar as mulheres prisioneiras“, reagiu Heather Barr da organização não governamental (ONG) Human Rights Watch, acrescentando que, a cada dia, os pontos de vista dos talibãs sobre os direitos das mulheres ficam mais claros.
Também este fim de semana, os talibãs dissolveram a Comissão Eleitoral Independente (IEC), criada sob o regime anterior e responsável pela organização das eleições, e ordenaram a dissolução da Comissão de Reclamações Eleitorais (ECC) e de dois ministérios, um para a paz e outro para assuntos parlamentares.
“Por enquanto, não precisamos que estes dois ministérios e estas comissões existam e funcionem. Se for necessário, o Emirado Islâmico (o nome dado pelos talibãs ao seu regime) pode restaurá-los”, afirmou Bilal Karim, um deputado porta-voz do movimento.
O IEC foi criado em 2006, alguns anos após a queda do regime talibã anterior (1996-2001), tendo como função organizar e supervisionar as eleições.
“Se esta organização não existir, estou 100% certo de que os problemas do Afeganistão nunca serão resolvidos porque não haverá eleições“, disse o dirigente que chefiou a organização até à queda do regime anterior.
Outro alto funcionário do regime anterior, Halim Fidai, referiu que a decisão mostra que “os talibãs não mudaram e não acreditam na democracia“. “Eles tomam o poder por meio de balas e não das urnas”, acrescentou.
Os talibãs regressaram ao poder em Cabul a 15 de agosto, aproveitando a retirada militar dos ocidentais e a queda do Governo afegão por eles apoiado, após 20 anos de guerra sangrenta.
// Lusa