La Niña dá-nos um “vislumbre aterrorizante” do futuro (com a sobrevivência das nações insulares em jogo)

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As cheias severas da semana passada em várias ilhas do Pacífico são um sinal de alerta sobre o que o futuro nos reserva. A tempestade perfeita provocou danos mais graves do que o habitual e os especialistas dizem que é “um vislumbre aterrorizante do que está para vir”, com uma ameaça séria à existência das nações insulares.

Ilhas como as Salomão e as Marshall, mas também a Papua Nova Guiné e a Micronésia, estão a ser assoladas pelas habituais inundações associadas às chamadas “marés de Primavera” que se verificam nesta altura do ano.

Contudo, os danos estão a ser maiores do que o costume, mesmo que estas marés não estejam a ser mais altas do que o habitual.

A severidade destas inundações explica-se pela combinação dessas marés com os efeitos das alterações climáticas e do fenómeno climático La Niña, como explica o professor e investigador Shayne McGregor do Centro de Excelência para Extremos do Clima da Universidade Monash, na Austrália, num artigo no The Conversation.

Shayne McGregor destaca que o que está a acontecer no Pacífico é “um vislumbre aterrorizante do que está para vir“.

O La Niña é marcado habitualmente por chuvas intensos, ciclones tropicais e um aumento do nível do mar.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) prevê que o fenómeno deste ano dure até ao início de 2022 e que seja mais fraco do que o dos anos de 2020 e 2021.

Mas, apesar disso, está a levar a uma subida do nível do mar entre 15 a 20 centímetros em algumas regiões do Pacífico.

Esta é a subida que estava prevista para 2050, segundo as estimativas dos cientistas, independentemente das medidas que possam ser tomadas para cortar as emissões de gases poluentes nos próximos anos.

Cheias mostram “o que será o novo normal”

Em 2050, espera-se que “o aumento adicional de 15-25 centímetros no nível médio do mar” se verifique a nível global, como repara Shayne McGregor, frisando que “as enchentes da semana passada mostram o que será o novo normal” nessa altura.

“Nas Ilhas Marshall, por exemplo, as ondas estavam a atingir barreiras de pedra, causando inundações em estradas de meio metro de profundidade“, alerta o especialista australiano.

E nada se pode fazer para impedir este cenário, fruto das emissões de gases com efeito de estufa que já foram libertadas no passado.

Mas a subida do nível do mar pode continuar para lá de 2050, conforme a emissão desses gases continuem nos próximos anos.

Assim, as ilhas baixas do Pacífico, estando na linha da frente dos efeitos das alterações climáticas, são uma espécie de “balão de ensaio” terrível para o que o futuro nos pode reservar. A subida do nível do mar está a ameaçar a sua própria existência e pode criar milhares de refugiados nas próximas décadas.

Contudo, o problema não é só do Pacífico e pode chegar a todas as “nações insulares de baixa altitude“, alerta Shayne McGregor, realçando que para terem “uma possibilidade de sobreviver às inundações”, todos os países do mundo “devem cortar as emissões [de gases com efeito de estufa] de maneira drástica e urgente“. A grande questão é como é que o vão fazer – e se vão mesmo fazê-lo.

Susana Valente, ZAP //

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1 Comment

  1. Continuem a desflorestar… cortar árvores que criam ciclos e ajudam a quebrar ventos… assim como reterem dioxido de carbono… ser humano no seu melhor.

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