O plástico é pior para o ambiente do que se pensava — então porque continuamos a usá-lo?

Ralph Pace, CC BY-ND

Até agora, os cientistas acreditavam que a quantidade de combustíveis fósseis presentes na composição dos plásticos constituía a totalidade dos recursos usados. No entanto, um novo estudo vem revelar que é na fase de produção que mais danos são feitos ao ambiente.

Há muito que a população mundial está ciente dos perigos que o plástico representa para o ambiente e para o futuro do planeta, no entanto, o material continua a ser extremamente popular nas várias indústrias graças ao seu baixo custo e resistência. A nível académico, a maioria das pesquisas existentes incidem na fase terminal de vida dos plásticos, havendo pouca informação sobre de que forma é que a sua produção — ao nível dos materiais e da energia — pode afetar negativamente o planeta.

“Até agora, o pressuposto — simplista — tem sido que a produção de plásticos requer aproximadamente a mesma quantidade de recursos fósseis que a quantidade de matérias-primas existentes nos plásticos, sobretudo no petróleo“, explica Livia Cabernard, estudante do doutoramento no Instituto de Ciência, Tecnologia e Política da ETH de Zurique. O problema, nota o site Futurity, é que a importância da fase de produção, comparada à fase de eliminação, tem sido significativamente subestimada.

Sobre este ponto, foi publicado recentemente um estudo na revista Nature Sustainability no qual os seus autores revelam que a pegada de dióxido de carbono global proveniente da produção de plásticos duplicou desde 1995, alcançando 2.2 mil milhões de toneladas de CO2 em 2015. Este número representa 4.5% das emissões dos gases com efeito de estufa e ultrapassa as previsões dos especialistas. Durante o mesmo período, a pegada “sanitária” global dos plásticos detetados na atmosfera também aumentou 70%.

Ao longo da pesquisa, a equipa tentou determinar a quantidade de emissões de gases com efeito de estufa associado ao longo do todo o ciclo de vida de um plástico, ou seja, desde a extração dos recursos fósseis, passando pelo processamento da matéria prima e seguindo para a fase de uso e consequente fim de vida, sendo este protagonizado por um processo de reciclagem, incineração ou de aterros.

Desta forma, os cientistas conseguiram identificar uma crescente produção de plásticos, baseados no carvão em países recentemente industrializados, tais como a China, a Índia, a Indonésia e a África do Sul — sendo esta a principal causa da crescente pegada de carbono dos plásticos nestes territórios.

“A pegada de carbono proveniente dos plásticos no setor dos transportes na China, a indústria eletrónica indonésia e o setor da construção indiano aumentaram para mais de metade desde 1995”, explica Carbernard. Esta marca, globalmente, faz com que as emissões resultantes da transformação do carvão tenham quadruplicado desde 1995 e agora representem quase metade da pegada global de carbono proveniente dos plásticos.

Tal como lembra a Futurity, quando o carvão é queimado, são produzidas partículas extremamente reduzidas que se acumulam no ar. Estas partículas, tal como é divulgado há anos, podem ser extremamente perigosas para a saúde da população, já que podem desencadear (ou piorar) diagnósticos como a asma, bronquites ou doenças cardiovasculares — que têm tendência a piorar à medida que o carvão é usado mais e mais tanto para efeitos de aquecimento como de produção de eletricidade.

Contrariando investigações anteriores, a nova pesquisa conclui que o dobro de energia fóssil é gasta (ou o dobro do carvão é queimado) na produção de plástico face à quantidade de matéria prima que existe efetivamente nos plásticos, o que afeta as avaliações do impacto ambiental do uso de plástico.

“Mesmo no pior cenário em que todo o plástico é incinerado, só a parte referente à sua produção representa uma fatia significativa dos gases com efeito de estufa e das partículas lançadas para a atmosfera”, descreve Cabernard. Em números concretos, a fase produção de plásticos é responsável por 95% da pegada de carbono que o material causa.

Até ao presente, apenas um estudo científico se tinha focado na questão do impacto ambiental da produção de plásticos, como tal, os autores da presente investigação usaram um método que já havia sido desenvolvido por Livia Cabernanrd na sua tese de doutoramento. A abordagem incluía uma análise multi-regional, que mapeia com precisão as cadeias de valor globais, desde a produção ao consumo, entre indústrias, países e regiões.

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