Entre uma crise diplomática, fantasma do Brexit continua a rondar. Pescadores franceses bloqueiam portos

Os pescadores franceses começaram, esta sexta-feira, a bloquear alguns portos no norte de França, como Saint-Malo e Calais, para exigir a resolução dos litígios de pesca com o Reino Unido, na sequência do Brexit.

Em Saint-Malo, o bloqueio durou cerca de uma hora, quando cerca de uma dezena de barcos de pesca impediu os navios ingleses de atracar nas docas, colocando-se no seu caminho e lançando granadas de fumo.

Em Calais, um pouco mais tarde do que em Saint-Malo, os pescadores bloquearam também a passagem dos navios de e para a costa britânica, uma operação que durou cerca de hora e meia.

“Quando a Europa e o Governo não cumprem as ameaças, depois de algum tempo é-se forçado a retomar o controlo, porque senão fica a impressão de que não se vai conseguir nada. Não vamos entrar em guerra, queremos apenas que os nossos direitos sejam respeitados. O acordo foi assinado e a parte inglesa não está a respeitá-lo”, disse Pascal Leclerc, presidente do Comité de Pesca de Ille-et-Vilaine.

Os pescadores franceses planeiam também bloquear, por algumas horas, a entrada de navios ingleses em dois outros portos do Canal da Mancha: Ouistreham e novamente em Calais (norte).

Na quinta-feira, o Comité Nacional de Pescas (CNP) francês anunciou que iria bloquear hoje o acesso de mercadorias e de passageiros ligados ao Reino Unido em três portos no norte e ao túnel da Mancha, num “alerta” para exigir a Londres a concessão de licenças pós-Brexit.

“Não queremos esmolas, apenas queremos as nossas licenças de volta. O Reino Unido tem de respeitar o acordo pós-Brexit. Muitos pescadores ainda estão sem saber o que fazer. Há 11 meses que esperamos de boca aberta. A paciência dos profissionais tem limites. Esperamos que este protesto seja ouvido”, frisou o presidente do CNP francês, Gérard Romiti.

Para o responsável do CNP, o movimento é uma resposta à atitude “provocadora” e “humilhante” dos britânicos.

Ao abrigo do acordo do Brexit, assinado no final de 2020, os pescadores europeus podem continuar a trabalhar nas águas britânicas, desde que provem que já lá pescavam.

Os franceses e os britânicos discutem sobre a natureza e a extensão dos documentos comprovativos a serem fornecidos.

No total, desde 1 de janeiro de 2021, a França obteve “mais de 960 licenças” para pescar nas águas britânicas e nas ilhas do Canal, mas Paris ainda pede mais de 150 autorizações, segundo o Ministério do Mar francês.

Isto acontece numa altura em que os dois países têm em mãos uma outra crise diplomática, na sequência do naufrágio que levou à morte de pelo menos 31 migrantes no Canal da Mancha.

As conversações entre as duas partes foram suspensas nas últimas horas, depois de o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ter revelado publicamente o conteúdo de uma carta endereçada ao Presidente francês, Emmanuel Macron, na qual propunha a devolução de todos os migrantes que atravessassem o Canal da Mancha rumo ao Reino Unido.

ZAP // Lusa

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