A evolução fez com as tartarugas-gigantes-de-galápagos já não tenham cancro. Cientistas sugerem que entender melhor este fenómeno pode ser útil para futuros tratamentos para humanos.
As tartarugas-gigantes-de-galápagos (Chelonoidis nigra) podem viver mais de 100 anos. Endémica do arquipélago de Galápagos, no Equador, é a maior espécie de tartaruga terrestre existente e podem chegar a pesar 400 quilos e ter quase dois metros de comprimento.
Este animal evoluiu de forma a ter cópias extra de genes que podem proteger contra os danos do envelhecimento, incluindo até mesmo o cancro. Testes em laboratório, levados a cabo por investigadores da Universidade de Buffalo, nos EUA, corroboraram isto.
As sua células são supersensíveis a certos tipos de stresse relacionado com proteínas danificadas. Quando estão sob stresse, as células autodestroem-se muito rapidamente através de um processo chamado apoptose.
O autor principal do artigo científico, Vincent Lynch, explica que destruir estas células defeituosas antes delas se transformarem em tumores evita que as tartarugas-gigantes-de-galápagos tenham cancro.
O estudo foi recentemente publicado na revista científica Genome Biology and Evolution.
As descobertas são particularmente intrigantes porque animais enormes que vivem por muito tempo deveriam ter as maiores taxas de cancro. Isto porque quanto mais células um corpo tem, mais oportunidades existem para o surgimento de mutações cancerígenas.
Contudo, o paradoxo de Peto pressupõe que, ao nível das espécies, a incidência de cancro não parece estar correlacionada com o número de células num organismo. Por exemplo, a incidência de cancro em humanos é muito maior do que a incidência de cancro em baleias, apesar de as baleias terem mais células do que os humanos.
Genes supressores de tumores já foram encontrados em duas famílias de cetáceos: Odontoceti e Mysticeti. O estudo, cujo um dos coautores é o microbiólogo português João Pedro de Magalhães, pode ajudar na investigação sobre cancro em humanos.
“Se pudermos identificar a maneira como a natureza fez alguma coisa — a maneira como certas espécies desenvolveram proteções — talvez possamos encontrar uma maneira de traduzir essas descobertas em algo que beneficie a saúde e as doenças humanas”, sublinhou Lynch, citado pelo portal Futurity.
“Não vamos tratar humanos com genes de tartarugas das Galápagos, mas talvez possamos encontrar um medicamento que imita certas funções importantes”, atirou o investigador.