A paelha foi (finalmente) reconhecida pela sua importância cultural. O que significa isto?

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A paelha – o icónico prato de arroz valenciano feito com peixe, carne e vegetais – foi oficialmente reconhecida pela sua importância cultural. Em outubro, o governo local da região de Valência, em Espanha, identificou a paelha como um ativo de Interesse Cultural Imaterial.

O decreto reconhece a tradição e o significado cultural da preparação e degustação da paelha, descrevendo o prato como representante da “arte de juntar e partilhar”. Estabelece ainda uma série de medidas de salvaguarda, incluindo a identificação, descrição, estudo e documentação da paelha para que a sua receita possa ser transmitida às gerações futuras.

Curiosamente, o decreto explica que diferentes ingredientes podem ser usados ​​para preparar o típico prato espanhol, reconhecendo que existem várias versões da receita e métodos de preparo. Menciona ainda o arroz como ingrediente essencial para a preparação adequada do prato, dando ainda recomendações sobre a forma como deve ser adicionado e cozido.

O reconhecimento segue o pedido da Câmara Municipal de Valência apresentado em abril e apoiado por políticos locais. O objetivo era proteger a história e tradição da paelha, após muitos anos de mudanças na receita e controvérsias sobre a sua preparação.

Por exemplo, a inclusão de chouriço na paelha é uma variação controversa, assim como o sanduíche de paelha de edição limitada do supermercado Tesco do Reino Unido.

A origem deste parto remonta há centenas de anos. Um manuscrito do século XVIII refere-se à paelha ou “arroz valenciano”, explicando as técnicas de confeção deste prato e esclarecendo que o arroz tem que secar. A paelha adquiriu reconhecimento internacional no início do século XX, principalmente quando a região de Valência começou a atrair mais turistas.

Próximos passos

O reconhecimento pode ser o primeiro passo de um processo mais amplo que pode, por fim, transformar a paelha em património imaterial da UNESCO. Outras expressões culturais musicais, artísticas e gastronómicas foram protegidas sob este esquema, incluindo a dieta mediterrânea e a pizza napolitana.

Isto levaria o reconhecimento que acaba de ser concedido na região de Valência a um nível global. A proteção do património, tanto a nível local como internacional, fortalece a importância que um objeto ou uma prática têm na vida de uma comunidade. Este “status” pode ser usado por produtores tradicionais como uma forte ferramenta de marketing para promover alimentos preparados de acordo com certos padrões aprovados.

Contudo, não oferece o monopólio sobre o uso de uma receita ou de um nome. O estatuto de património imaterial não confere aos produtores locais de Valência direitos exclusivos sobre o processo de confeção da paelha ou a utilização da marca “paelha”. Isto significa que quem quiser produzir e vender produtos de paelha pode rotulá-los como tal, mesmo fora da região de Valência e de Espanha.

O “status” de património imaterial também não impede que as pessoas registem o termo “paelha” como marca registada. Na UE, as marcas “Authentic Paella way recipe” são registadas por empresas que comercializam produtos alimentícios prontos. Essas marcas irão continuar a existir mesmo depois da paelha obter o “status” de património cultural em Espanha e internacionalmente.

O que poderia dar à paelha uma proteção legal mais forte é o registo como especialidade tradicional garantida da UE (ETG). Assim, como o reconhecimento do património cultural, os registos do TSG podem ser usados ​​por fabricantes de paelha tradicionais (que devem seguir os padrões exigidos) para melhor comercializar e comunicar o valor cultural dos seus produtos.

Para obter o registo do TSG, é necessário comprovar o uso do produto no mercado interno por um período não inferior a 30 anos – já que isso garante a transmissão entre gerações.

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1 Comment

  1. Este é um dos dias mais felizes da humanidade. Finalmente a Paella vê reconhecidos os seus méritos. Já comi paellas fantásticas em diferentes países. Também já tive a infeliz oportunidade de comer coisas a que chamavam paellas sabe-se lá bem porquê…
    Mas as melhores que comi até hoje, foram mesmo na região de Valência. Mas até por cá já comi muito boas.

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