Na década de 1990, a Suíça decidiu combater uma das piores epidemias de drogas da Europa testando uma política radical e controversa, que incluía oferecer heroína pura e salas de consumo a dependentes.
Assolado por uma grande epidemia de heroína, o Governo suíço decidiu agir com repressão policial e tratamentos focados apenas na abstinência, mas a estratégia insistia em não dar frutos.
No final dos anos 80, alguns governos locais do país decidiram tolerar o consumo de drogas em determinados espaços públicos, como parques, numa tentativa de recuperar algum tipo de controlo sobre a situação.
Estes lugares ficaram conhecidos needle parks (“parques das agulhas”), sendo o Platzspitz Park, em Zurique, um dos mais famosos.
O médico suíço Andre Seidenberg, que trabalhou com dependentes químicos durante várias décadas, contou, em entrevista à BBC, que decidiu integrar a comunidade de profissionais de saúde que desafiava a política oficial.
Estes médicos ofereceram aos dependentes acesso a abrigos e serviços médicos, além de agulhas esterilizadas. A iniciativa foi particularmente significativa quando o HIV começou a espalhar-se na década de 1980.
O diário escreve que, no final dos anos 80 e início dos anos 90, a Suíça tinha a maior taxa de infeção por HIV na Europa Ocidental, em parte devido à partilha de seringas. Uma das nações mais ricas do mundo viu-se, assim, mergulhada numa crise que, aparentemente, não fazia distinção de classes.
Para Seidenberg, era evidente que a política vigente não estava a funcionar.
Quando a ex-Presidente Ruth Dreifuss se tornou ministra da Saúde, no início da década de 1990, as vozes de reformistas como Seidenberg chamavam cada vez mais à atenção, acabando por captar a da própria governante.
“Eu, como ministra federal da Saúde, tinha que facilitar a inovação”, disse Dreifuss, em declarações à cadeia britânica.
Foi então que, em 1991, o Governo suíço elaborou uma nova política nacional, que combinava uma linha dura em relação à criminalidade e uma abordagem de saúde pública para os dependentes, que ficou conhecida como “estratégia dos quatro pilares“.
Um dos pilares era a aplicação da lei. Mas os outros três — prevenção, redução de danos e tratamento — baseavam-se em tratar os consumidores de drogas de forma mais humana.
Como a Suíça é altamente descentralizada, sendo as decisões frequentemente tomadas através de referendos, cada região teve que ser convencida a experimentar algumas das novas ideias desta política pública de vanguarda.
A BBC lembra que um dos elementos mais controversos do plano era testar o “tratamento assistido com heroína” (HAT, na sigla em inglês). A abordagem consistia em oferecer aos dependentes heroína pura sob prescrição médica, a ser injetada com segurança em clínicas especializadas.
O programa HAT foi concebido como uma investigação científica e os resultados preliminares pareciam promissores. Com o tempo, os dados começaram a provar-se conclusivos.
Segundo a BBC, a estratégia suíça reduziu drasticamente o número de overdoses (caindo para metade, entre 1991 e 2010), de infeções por HIV (uma redução de 65%) e de novos consumidores (menos 80%).
O teste final do projeto foi político: em 2008, a Suíça realizou um referendo nacional, no qual 68% da população votou pela incorporação permanente da política dos quatro pilares à lei federal.
ZAP // BBC
Aí está uma merda que a humanidade dispensava que existisse: drogas. Já não basta os males que as autorizadas fazem ainda inventaram estas porcarias.