Uma equipa de investigadores conseguiu restaurar parcialmente a visão de um indivíduo cego usando uma nova terapia genética.
Um cego, que perdeu a visão devido a uma doença neurodegenerativa ocular há 40 anos, conseguiu recuperar parcialmente a visão graças a uma terapia genética experimental inédita, avança o Science Alert.
O indivíduo, de 58 anos, foi diagnosticado com retinite pigmentosa, uma doença da retina que causa a perda progressiva da visão, levando muitas vezes à cegueira. É, habitualmente, diagnosticada na adolescência ou em jovens adultos e acredita-se que afete aproximadamente dois milhões de pessoas em todo o mundo.
Neste caso específico, a degradação da visão significava que a sua acuidade visual estava limitada à perceção da luz: o indivíduo conseguia perceber a presença da luz e diferenciá-la da escuridão, mas não conseguia distinguir nada mais.
Como parte do ensaio clínico PIONEER, foi experimentada uma terapia optogenética – chamada restauração optogenética da visão -, que teve como base uma injeção de uma proteína que permite uma reação à luz no olho do doente.
Com a ajuda de óculos especiais – que estimulavam os olhos do paciente com rajadas de luz que correspondiam à forma e à posição dos objetos à sua frente – o indivíduo foi capaz de ver parcialmente.
“Os óculos estimuladores de luz capturam imagens do mundo visual usando uma câmara neuromórfica que deteta mudanças de intensidade, pixel a pixel, como eventos distintos”, explicaram os cientistas. Depois, “transformam os eventos em imagens monocromáticas e projetaram-nos em tempo real à medida que a luz de 595 nm pulsa na retina”.
O paciente – que anteriormente era incapaz de detetar visualmente qualquer objeto colocado à sua frente – foi capaz de perceber, localizar e tocar em vários objetos colocados em cima de uma mesa.
O portal explica que o indivíduo usava também um capacete eletroencefalográfico não invasivo (EEG), para fornecer aos investigadores uma leitura da atividade neuronal através do córtex.
“Os registos de EEG sugeriram que a atividade retinal evocada pela estimulação optogenética da retina se propaga para o córtex visual primário e modula a sua atividade”, escreveram os autores do artigo científico, publicado esta quarta-feira na Nature Medicine.
Apesar de a técnica se encontrar numa fase muito inicial e serem necessárias mais pesquisas, os cientistas sublinham que os sinais são muito promissores.
O indivíduo foi também capaz de identificar e contar o número de listas brancas de uma passadeira, fora do laboratório. “Posteriormente, o paciente testemunhou uma grande melhoria nas atividades visuais diárias, como detetar um prato, caneca ou telefone, encontrar um móvel num quarto ou uma porta num corredor, mas apenas com o uso dos óculos”, relata a equipa.
Os cientistas terminam afirmando que o “tratamento com a combinação de um vetor optogenético e óculos estimulantes de luz resultou num nível de recuperação visual neste paciente que, provavelmente, seria um benefício significativo na vida diária”.
FANTÁSTICO.