O recente ataque ao complexo nuclear iraniano de Natanz, que Teerão atribuiu a Israel, destinava-se a sabotar o acordo nuclear, mas não teve capacidade para o fazer, assegurou em entrevista à Lusa o embaixador iraniano em Lisboa, Morteza Damanpak Jami.
“O recente ataque terrorista contra o nosso complexo nuclear na Natanz poderá ter sido entendido como uma coação para que o Irão regressasse às negociações [sobre o acordo nuclear] de mãos vazias. O que fizemos foi iniciar esse enriquecimento até 60% numa retaliação numa resposta a esse ataque terrorista cometido por Israel”, indicou.
O embaixador referia-se ao acordo nuclear assinado entre o Irão e os 5+1 em 2015 [o Plano de Ação Conjunto Global, JCPOA, assinado entre Teerão e os EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e ainda Alemanha].
Os Estados Unidos (EUA), durante a Presidência do Donald Trump, retiraram-se do acordo em 2018 e reimpuseram pesadas sanções ao Irão, mas a atual administração de Joe Biden admitiu o regresso a esta iniciativa sob certas condições que continuam a ser contestadas por Teerão, enquanto prosseguem as negociações entre os restantes participantes.
“Infelizmente ocorreram hesitações, atrasos, e alguns responsáveis da atual administração [dos EUA] pensam utilizar a falsa política da máxima pressão de Trump como forma de pressão sobre a questão nuclear. Indiciam um regresso gradual, mas o Irão rejeitou totalmente essa política, e disse que se retiraram devem regressar, e suspender todas as sanções impostas durante a administração Trump, e no seu conjunto”, disse.
O atual impasse foi agravado pelo ataque em Natanz e as crescentes tensões na região do golfo Pérsico. Em resposta, o Irão anunciou o enriquecimento de “algumas gramas” de urânio a 60%, muito para além dos limites impostos pelo acordo, e justificado pela ação de sabotagem israelita.
“Do ponto de vista técnico não é uma ação efetuada pelo Irão para ficarmos mais perto da bomba nuclear. Pode-se enriquecer até 90% para objetivos pacíficos. Aumentámos para necessidades que o Irão necessita, porque o enriquecimento do urânio a 60% é também necessário para medicamentos utilizados para doentes específicos”, apontou.
“E fizemo-lo por isso, não existem intenções militares com o enriquecimento a 60%, mas o Irão nunca estará de mãos vazias, pode efetuar o enriquecimento a qualquer nível que considere necessário para o seu programa nuclear pacífico, mas quando a outra parte decidir o regresso incondicional do JCPOA o Irão aplicará as suas limitações, à volta de 3,5%, regressará ao anterior nível de enriquecimento acordado”, precisou.
Na perspetiva do Irão, Israel continua a tentar por todos os meios sabotar o JCPOA, mas o embaixador assegurou que “ninguém” poderá travar esse processo.
“Tentaram diversas medidas de sabotagem contra as atividades nucleares do Irão, fizeram-no antes de assassinarem o cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh. E com o ataque a Natanz pensavam que podiam terminar com o programa nuclear do Irão. Que a central de Natanz nunca mais poderia ser utilizada para o enriquecimento de urânio, porque teria muito danificada por este ato de sabotagem terrorista, mas o Irão quis demonstrar que o seu programa nuclear para objetivos pacíficos não é destrutível”, assinalou.
“Mas não pode ser destruído, não pode ser demolido”, insistiu, acrescentando: “É do legítimo direito do Irão, sob a salvaguarda da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) fazê-lo. E imediatamente após o atentado, o Irão disse que se reservava no direito de retaliar contra este ato terrorista em conformidade com a Carta da ONU. Mas queríamos demonstrar que o Irão tem a capacidade de prosseguir o seu programa nuclear e enriquecê-lo a qualquer nível”.
As constantes declarações dos dirigentes israelitas, quando asseguram que nunca permitirão que o Irão possua a arma nuclear, devem ser entendidas como uma forma de impedir o programa nuclear do país, que Teerão garante ter apenas objetivos pacíficos.
“Israel não está numa posição para fazer isso [destruir o programa nuclear iraniano]. São mais vulneráveis que o Irão, é um pequeno país que ocupa as terras dos palestinianos, já acumulou cerca de 200 ogivas nucleares, o que se diz, e houve um míssil que explodiu perto de uma central nuclear de Dimona [em 22 de abril]”, recordou ainda.
“Isto significa que Israel é vulnerável, nem está em condições de se defender a si próprio. O programa antimíssil que possuem não vai funcionar. Está mais vulnerável, e o Irão é um grande país. É um país poderoso que não pode ser ameaçado por Israel. Esses atos de sabotagem tentam atrasar o nosso programa nuclear, mas após este ato de sabotagem demonstrámos que podemos remediar qualquer obstáculo ao nosso programa nuclear de uma forma eficiente e rápida”, frisou.
Este conflito entre os dois países inimigos do Médio Oriente, definidos nas respetivas capitais como a maior ameaça à sua segurança, também permanece dependente da política de Washington para a região, desde há décadas o principal aliado de Israel.
“Se os” EUA “estão inquietos com uma escalada de qualquer tensão na região, se estão preocupados com os complexos nucleares iranianos ou qualquer tensão entre o Irão e Israel, necessitam de terminar com o terrorismo económico, terminar com as sanções e regressar à total implementação do JCPOA. Com a total aplicação deste acordo, Israel não terá espaço para efetuar futuras sabotagens”, concluiu o embaixador.
// Lusa
É agradecer ao Trump e companhia que “roeram a corda”, permitindo os Irão saltar fora do acordo…
Olha não pode… Pode, pode. Basta mandar para lá o Chuck Norris juntamente com o Rambo e o Steven Seagal e ele vão ver o que é bom para a tosse.