Na apresentação da nova estratégia de Bruxelas para fazer face à crise ambiental, o vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Frans Timmermans, afirmou que o combate às alterações climáticas já não passa apenas pela redução das emissões de carbono, mas também pela adaptação.
“Não há vacina contra as mudanças climáticas. Já só há preparação”, disse. “Durante muito tempo, evitou-se falar de adaptação porque, de certa forma, poderia parecer que se estava a admitir uma derrota face à crise climática. Agora percebemos claramente que temos de evitar o pior e prepararmo-nos para o inevitável”, explicou ainda.
E sublinhou, citado pelo Expresso: “Mesmo que conseguíssemos eliminar todas as emissões de gases com efeito de estufa amanhã, iríamos, ainda assim, enfrentar os efeitos das nossas emissões passadas por várias décadas”.
As condições climatéricas extremas já custam mais de 12 mil milhões de euros por ano às contas públicas dos estados-membros da União Europeia (UE). “Se falharmos na prevenção de uma subida de três graus nas temperaturas, as perdas poderão atingir os 170 mil milhões de euros por ano”, frisou Timmermans.
“Temos de ser capazes de nos adaptar mais rapidamente, de partilhar informação e antecipar melhor futuros riscos, para que agricultores, famílias, indústrias e cidades conheçam melhor que problemas podem resultar das alterações climáticas para que se possam preparar previamente”, referiu.
Timmermans indicou que a maioria das perdas ainda recaem sobre famílias e negócios sem proteção seguradora e sobre os cofres públicos. O nível de proteção das seguradoras ainda é muito insuficiente, com apenas 35% das perdas a estarem, em média, cobertas.
EUA vão recuperar meta climática “rapidamente”
Numa intervenção no segundo dia dos Dias da Indústria da UE, Timmermans reiterou que a Europa quer ser “o primeiro continente neutro em matéria de clima”, objetivo que a Comissão Europeia pretende atingir até 2050, mas que os Estados Unidos (EUA) irão “recuperar muito rapidamente” a nível climático.
A UE estabeleceu “o ritmo” e “ainda” lidera a corrida, mas o comissário para o Pacto Ecológico Europeu acredita que os norte-americanos “vão recuperar muito rapidamente” com a ‘entrada em cena’ da administração de Joe Biden.
“Também vimos a China dar alguns passos gigantes na direção certa. O Japão também declarou que quer ser neutro em matéria de clima até 2050, tal como a Europa. O Canadá, a Coreia [do Sul]… Vemos desenvolvimentos incríveis em partes de África e da Ásia. As pessoas estão a entrar nesta corrida”, assinalou.
Segundo Timmermans, pela “maneira como vivemos agora, precisaríamos de três planetas para acomodar as nossas necessidades”.
Por isso, apelou à necessidade de “garantir que mudamos a maneira como vivemos para pararmos o aumento da temperatura do mundo, […] e o risco de ecocídio”, transformando a economia “para que possa beneficiar da revolução industrial que está a acontecer e para que possamos trazer mais pessoas para trabalhos justos”.
Ainda assim, o comissário europeu declarou-se impressionado pelo facto de a pandemia não ter diminuído “o sentido de urgência das pessoas no que diz respeito à crise climática”.
“Agora que as pessoas entendem o quão importante é a nossa saúde e o quão vulneráveis somos como seres humanos, sendo que a pandemia foi também resultado da falta de equilíbrio entre nós e o ambiente natural, acredito que o sentido de urgência que ainda vemos vai ajudar-nos a sair desta pandemia com todos os investimentos que serão necessários para recuperar de forma a que também transformemos a nossa economia numa economia verde”, sublinhou.
Timmermans salientou a “oportunidade de usar a revolução industrial para o benefício de uma economia mais produtiva e circular”, na qual se reduz a “dependência de matérias-primas”. “Os passos que vamos tomar nos próximos anos serão decisivos quanto a sermos bem sucedidos ao sair desta crise ou não”, concluiu.