À volta do mundo, existem vários lugares misteriosos que parecem desafiar as leis da gravidade – sítios inclinados, em que os carros (e ciclistas) têm dificuldade para descer, mas conseguem subir com facilidade (e até em ponto morto). O Bom Jesus do Monte, em Braga, faz parte da lista.
Também conhecidas como “colinas de gravidade”, esses fenómenos naturais – mas bizarros – existem um pouco por todo o mundo: temos o Confusion Hill, na Califórnia, e o Magnetic Hill, no Canadá, por exemplo.
Em Portugal, chama-se Bom Jesus do Monte e é nada mais nada menos do que uma pequena rampa que liga o Parque do Bom Jesus à estrada nacional de volta à cidade ou em direção ao Sameiro.
Embora estes locais tenham inspirado rumores de bruxaria ou de que um íman gigante estaria enterrado no solo, a explicação científica vai fazer com que questione todos os locais inclinados que vir daqui para a frente.
Existem dezenas de “colinas de gravidade” em todo mundo e todos elas têm uma coisa em comum: se parar o carro na inclinação, a descer, e o puser em ponto morto, o veículo irá “subir” para a retaguarda, até ao topo da colina, em vez de descair no sentido da marcha até à base da mesma (como seria de esperar).
Mas, afinal, porque é que isso acontece? Este fenómeno natural é apensas uma ilusão de ótica e tem uma explicação física, bastante lógica e até simplista.
Há uma perceção de inclinação negativa – a ideia de estarmos a descer para uma zona mais baixa – que nos é dada pelo facto de a rampa desembocar numa estrada cuja inclinação é bastante acentuada.
Mas, na verdade, a rampa está inclinada positivamente. Como estas estradas estão em paralelo e a inclinação de uma é bem maior que a da outra, criamos a ilusão de que estamos a descer até ao cruzamento, quando estamos, afinal, a subir na sua direção.
Estes locais têm uma inclinação “que dá a impressão de que está a subir”, disse Brock Weiss, físico da Universidade do Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, ao Discoveries and Breakthroughs in Science, em 2006.
“Na verdade, está a descer a colina, embora o seu cérebro lhe dê a impressão de que está a subir”, explicou.
O psicólogo britânico Rob Macintosh, da Universidade de Edimburgo, explicou ao Science Channel que “o terreno se inclina” para um lado, para o qual a estrada também se inclina. Mas “num valor menor, então a inclinação relativa parece ir na direção oposta“.
Mas, se uma colina está fisicamente inclinada, como é que os nossos olhos nos enganam?
De acordo com psicólogos, está tudo relacionado com o horizonte. Em muitos destes bizarros locais, este encontra-se escondido, fazendo com que não tenhamos um ponto de referência adequado.
Um estudo de 2003, publicado na Psychological Science, investigou como é que a ausência de um horizonte pode distorcer a nossa perspetiva, ao recriar uma série de locais “antigravitacionais” da vida real no laboratório.
Os investigadores da Universidade de Padova e Pavia, em Itália, construíram modelos de várias “colinas de gravidade” e pediram a voluntários para as observarem, de uma forma que lhes dava a sensação de estarem no local.
De seguida, alteraram o horizonte do modelo para ver como é que isso afetava a perspetiva sobre a direção da inclinação e descobriram que, sem um horizonte verdadeiro à vista, as árvores e os sinais de trânsito pregavam partidas ao cérebro dos voluntários.
“Descobrimos que a inclinação percecionada depende da altura do horizonte visível. A inclinação da superfície tende a ser subestimada em relação ao plano horizontal e, quando precedida, seguida ou acompanhada por um declive com inclinação acentuada, uma descida pouco acentuada é percecionada como uma subida“, relata a equipa.
“Os efeitos visuais (e psicológicos) obtidos nas nossas experiências foram, em todos os aspetos, análogos aos experimentados no local. Após a conclusão da tarefa por parte de cada voluntário, colocamos um pequeno rolo na encosta e a fita parecia mover-se contra a lei da gravidade – produzindo surpresa e, às vezes, medo referencial”, dizem os investigadores, citados pelo Science Alert.
Na Serra da Boa Viagem (Figueira da Foz) há um sítio assim.
Quando estava no Ensino Básico (anos setenta) já me tinham dado a explicação científica. Mas parece-me que esta informação deixou de ser dada aos alunos em Braga para ainda haver quem considere estranho…