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Impedir migrantes de entrar ou chineses de sair? Vai “nascer” uma Grande Muralha da China na fronteira com o Myanmar

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matt512 / Flickr

A China está em processo de construção de um muro de arame farpado ao longo da fronteira de 2.100 quilómetros ao sul com o Myanmar para evitar travessias ilegais, de acordo com relatórios recentes.

De acordo com a Radio Free Asia (RFA), financiada pelo governo dos Estados Unidos, imagens divulgadas nas redes sociais na cidade de Wanding e da cidade de Ruili – ambas na província de Yunnan, no sudoeste da China – mostram cercas de metal de arame farpado de 1,8 a 2,7 metros.

A Newsweek relata que, embora relatos dos media chineses afirmem que a muralha na fronteira ajude a prevenir cruzamentos ilegais e surtos de covid-19, o relatório da RFA revela que poderia impedir os dissidentes chineses de fugir do país.

Uma publicação no Twitter citada pela RFA refere mesmo que o empreendimento gigante, que recebeu o nome de “Grande Muralha do Sul”, começou a ser construído este ano. Atualmente estende-se por 660 quiómetros após a conclusão da sua primeira fase.

A China planeia restringir toda a sua fronteira de 2.100 quilómetros com Myanmar até outubro de 2022, com cruzamentos importantes a serem fortificados com cercas de alta tensão, câmaras de vigilância e sensores infravermelhos.

No mês passado, o site de notícias birmanês The Irrawaddy informou que os militares e oficiais do Myanmar, em Kokang, uma zona autoadministrada no norte do estado de Shan, tinham apresentado objeções a Pequim sobre a proximidade da muralha à linha de demarcação. A infraestrutura foi construída sem qualquer aviso prévio dado a Yangon.

Porém, os protestos do Governo de Myanmar e de líderes locais na Zona de Autoadministração de Kokang foram em vão.

Dois especialistas citados pela RFA disseram que o muro da fronteira serviria a outros propósitos além do controle da pandemia. “A decisão de construir este muro de fronteira não foi tomada num dia. É o resultado de um planeamento estrito”, disse um estudioso das relações Myanmar-China, identificado apenas como “Siling”.

O especialista disse que o muro impediria os cidadãos chineses de cruzar com frequência para o Myanmar e o Vietname para fazer negócios – alguns optando por nunca mais voltar. “A construção deste muro pela China também impedirá que os chineses escapem. A China não quer que essa tendência continue“, disse Siling.

O segundo especialista, identificado pelo sobrenome Wang, concordou que o muro da fronteira impediria os dissidentes chineses de fugir para o Sudeste Asiático. “Desde que Xi Jinping assumiu o poder, não só impediu que os cidadãos saíssem, mas também tentou sequestrar chineses no exterior para trazê-los de volta para casa”, disse Wang.

A RFA, que começou a receber subsídios do Governo dos Estados Unidos em 1996, tem relatado extensivamente sobre abusos dos direitos humanos em Xinjiang.

Em outubro, o Mandarin Service relatou que a China estava a construit um muro ao longo da sua fronteira sul com o Vietname para impedir o fluxo de trabalhadores migrantes chineses que cruzavam a fronteira para encontrar trabalho no auge da pandemia.

Maria Campos, ZAP //

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2 Comments

  1. O que o governo Chinês sabe bem-fazer é exportar chineses pelo mundo fora certamente com alguma intenção bem guardada, possivelmente os que fogem para esses lados não serão assim locais tão bem desejados pelo próprio governo.

  2. Aí está a segregação, quer seja de entrada quer de saída, a funcionar em pleno no regime comunista.
    O Trump como era de direita foi acusado de xenofobia em relação ao México, Estes como são de esquerda devem ser assinalados como defensores do proletariado.
    Ao menos aos americanos ninguém acusou de o fazer para não querer deixar sair os americanos.
    Quase 60 anos depois voltamos a ter o argumento do muro de Berlim (na altura foi erigido para evitar a penetração de contra-revolucionários na paradisíaca RDA…).

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