Investigadores da Universidade de Pittsburgh descobriram recentemente uma “ponte” biodegradável que poderá ajudar no tratamento de lesões nos nervos e a recuperar cerca de 80% da função nervosa.
As lesões superficiais que ocorrem no sistema nervoso periférico curam-se, por norma, sem ajuda. Mas o mesmo não acontece quando se trata de uma lesão mais séria, em que a única opção é muitas vezes um auto-enxerto – cirurgia que envolve a remoção de tecido nervoso saudável de uma parte menos crítica do corpo e a sua posterior transplantação para a área onde os nervos estão danificados.
Este tratamento não é, no entanto, ideal porque repara apenas 50 a 60% da função dos nervos e causa outra lesão numa zona diferente do corpo, disse Kacey Marra à Scientific American.
Investigadores da Universidade de Pittsburgh descobriram recentemente uma forma mais eficaz de tratar estas lesões – construir uma “ponte” composta por um tubo biodegradável que liberta uma proteína, durante três meses – tendo em conta o facto de os nervos se regenerarem cerca de um milímetro por dia, este método permitirá o tratamento de lesões com cerca de 12 centímetros.
De acordo com o estudo publicado na revista Science Translational Medicine, a proteína libertada induz o nervo a crescer mais rápido e o tubo funciona como um guia para que cresça ao longo do caminho correto.
A equipa de investigadores implantou o dispositivo em macacos, que apresentavam grandes defeitos nervosos nos braços, e reparou que quase 80% da função havia sido restaurada.
“Enxertos de nervo mais longos são sempre mais desafiadores”, disse Christine Schmidt, professora e chefe do departamento de engenharia biomédica da Universidade da Flórida, que não esteve envolvida no artigo.
“Seria ótimo se fossemos capazes de resolver os danos nervosos de longo prazo”, acrescentou. Schmidt considera, no entanto, que os testes feitos pela equipa em macacos não são o suficiente porque os nervos são relativamente pequenos.
Mas Marra explicou que os testes em humanos estão já programados para o próximo ano e que, se correrem como esperado, os cirurgiões podem em breve ter uma alternativa melhor aos auto-enxertos para reparar danos graves nos nervos.
Outros investigadores estão a explorar o uso de células-tronco para ajudar a preencher as falhas nervosas, mas a abordagem da “ponte” terá mais facilidade em receber aprovação.
“Se forem adicionadas células-tronco ou muitas complexidades”, será mais difícil obter um sinal verde por parte das entidades reguladoras, disse Schmidt. É melhor avançar com pequenos passos, como fizeram os investigadores de Pittsburgh, para que se chegue a um resultado clínico – e isso é o que realmente importa, acrescentou.