Bolsonaro diz que Brasil tem de deixar de ser um país de “maricas”

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Marcelo Camargo / ABr

O Presidente brasileiro voltou a causar polémica, esta terça-feira, ao afirmar que o Brasil “tem de deixar de ser um país de ‘maricas'”, referindo-se ao medo em torno da pandemia de covid-19.

“Tudo agora é pandemia. Esse negócio tem de acabar. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. O Brasil tem de deixar de ser um país de ‘maricas’“, disse Jair Bolsonaro, num evento sobre turismo, organizado pelo Governo federal.

“Olha que prato cheio para a imprensa, para a ‘urubuzada’ [expressão brasileira usada para adjetivar pessoas que desejam o mal de outros] que está ali atrás. Temos de lutar. Peito aberto, lutar”, acrescentou o chefe de Estado, em mais uma crítica aos jornalistas, que acusa de denegrirem a sua imagem.

No evento denominado “Retomada do Turismo”, Bolsonaro voltou a defender que a atual pandemia foi “sobredimensionada” e criticou quem referiu a possibilidade de uma segunda vaga da doença no país sul-americano.

Desde o início da pandemia, o Presidente brasileiro tem-se mostrado bastante cético em relação à gravidade da doença e opôs-se ao isolamento social, tendo chegado a declarar que o Brasil está entre os países que menos sofreram com a covid-19.

Contudo, o Brasil, com 212 milhões de habitantes, é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 5,6 milhões de casos e 162.628 óbitos), depois dos Estados Unidos.

Ao dirigir-se a empresários do setor do turismo, o Presidente lamentou as perdas que a pandemia gerou no ramo, e culpou taxas e decretos ambientais de prejudicarem o negócio.

“Vocês foram na lona nessa pandemia. Que foi sobredimensionada. A manchete amanhã: ‘Bolsonaro não tem carinho, não tem sentimento com quem morreu’. Tenho sentimento com todos os que morreram. Mas foi sobredimensionado“, frisou o mandatário.

“O turismo parou e foi à lona. Fico preocupado com os empresários do setor, mas há muita coisa que não depende de mim, mas do Parlamento e dos Governos estaduais”, afirmou, criticando ainda o “excesso de normas e taxas” que se aplicam no setor.

A faturação do turismo do Brasil, um dos setores mais afetados pela pandemia, diminuiu 33,6% entre janeiro e agosto deste ano, face ao mesmo período de 2019, segundo um levantamento divulgado no mês passado.

O levantamento, feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do estado de São Paulo (FecomercioSP), a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o resultado negativo se deveu, principalmente, a uma queda de 68,8% das viagens aéreas e a uma retração de 43,2% das hospedagens e restauração.

“Quando acabar a saliva, tem de ter pólvora”

O Presidente brasileiro criticou ainda as declarações de um “candidato à chefia de Estado” sobre a Amazónia, embora sem mencionar diretamente o Presidente eleito dos EUA, Joe Biden.

“Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que se eu não apagar o fogo da Amazónia, vai levantar uma barreira comercial contra o Brasil. (…) Apenas diplomacia não dá. Quando acabar a saliva, tem de ter pólvora. Senão não funciona”, afirmou o chefe de Estado brasileiro.

Durante a campanha eleitoral norte-americana, quer Biden, quer a sua vice-presidente, Kamala Harris, fizeram duras críticas à atual política brasileira para a Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, que sofre os maiores incêndios e desflorestação em décadas desde que Bolsonaro ascendeu ao poder, em 2019.

As críticas surgiram, inclusive, no primeiro debate entre Joe Biden e o seu antecessor, Donald Trump, na reta final da campanha eleitoral, em que o candidato do Partido Democrata disse que o Brasil deveria “parar” a “destruição” da Amazónia, caso contrário enfrentaria “consequências económicas significativas”.

“Mais carbono é absorvido naquela floresta do que é emitido pelos Estados Unidos. Vou garantir que vários países se juntem e digam: aqui estão 20 mil milhões de dólares. Parem de destruir a floresta. E se não pararem, então sofrerão significativas consequências económicas”, disse o agora Presidente eleito, num debate no final de setembro.

Bolsonaro expressou ao longo do processo eleitoral dos Estados Unidos a sua preferência pela reeleição de Trump e manteve um tom crítico contra Biden após algumas declarações do agora Presidente eleito sobre a Amazónia.

Entre janeiro e setembro deste ano, a Amazónia brasileira registou 76.030 queimadas, o maior número desde 2010, quando foram registados 102.409 focos de incêndio no mesmo período, indicou o Instituto de Pesquisas Espaciais brasileiro.

Já a desflorestação da maior floresta tropical do mundo atingiu mais de sete mil quilómetros quadrados de janeiro a setembro, um número alarmante, apesar de uma queda de 10% comparativamente a igual período de 2019, ano em que foram quebrados todos os recordes, de acordo com o mesmo organismo público.

“Vitória” após suspensão dos testes da Coronavac

O Presidente do Brasil comentou ainda, em tom de vitória, a suspensão dos testes da Coronavac, vacina chinesa em teste contra a covid-19, determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) após a morte de um voluntário.

“Mais uma vitória de Jair Bolsonaro”, escreveu o chefe de Estado na sua conta de Facebook, em resposta a um seguidor que lhe perguntou se o Governo compraria a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, atualmente em fase final de testes, caso a sua eficácia seja comprovada.

A Coronavac está a ser testada no Brasil através de uma parceria entre a Sinovac e as autoridades do estado de São Paulo, cujo governador, João Doria, se tornou um dos adversários mais ferrenhos de Bolsonaro no campo conservador.

Morte, invalidez, anomalia. Essa é a vacina que Doria queria obrigar o povo paulista a tomar”, acrescentou o Presidente brasileiro na mesma mensagem, em que reiterou que a imunização “nunca poderia ser obrigatória” no Brasil, como defende o governador.

No mês passado, Bolsonaro já tinha afirmado que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém” e que “não se justifica aporte financeiro bilionário num medicamento que nem passou na fase de testes”, aludindo ao que já havia dito sobre a “vacina de Doria” e que, advertiu, “não será comprada” pelo seu Governo.

A suspensão dos testes da Coronavac no Brasil foi anunciada, na segunda-feira, pela Anvisa, órgão regulador oficial, após ser notificada da ocorrência de um “evento adverso grave”.

O Instituto Butantan, laboratório associado ao governo regional de São Paulo que comanda os testes da Coronavac, afirmou que a morte de um dos voluntários do estudo “não tem relação com a vacina” e, por isso, considerou que os testes devem continuar.

Na mesma linha argumentou a farmacêutica chinesa que, em nota divulgada em Pequim, se mostrou convicta da “segurança” da sua vacina.

“O estudo clínico no Brasil está a ser realizado de forma rigorosa e de acordo com os requisitos das boas práticas clínicas, e estamos convencidos da segurança da vacina“, disse a Sinovac em breve comunicado publicado no seu site.

“Após comunicarmos com o nosso parceiro brasileiro, o Instituto Butantan, ficámos a saber que a sua direção acredita que este grave evento adverso não tem relação com a vacina”, disse.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. Justamente, é pelo facto do Brasil não ser um país de “maricas” que em breve se vai despedir do idiota “bostanaro” tal como os americanos fizeram com a trampa do Trump, para o alívio da inteligência mundial. O brasiu está farto de ser a piada do mundo, gentchi.

  2. Ao considerar “maricas” os Brasileiros, afirmando-o claramente e de bom son. Vamos ver se os ditos “maricas” irão votar nele !…..se sim, confirma-se o dito !

  3. É uma nova abordagem, insultar o eleitorado, ou pelo menos a metade, considerando que a outra metade são marias. O Ventura pode fazer isso também.
    Bolsonara só quer votos de não-maricas, assim as maricas mais as marias formam uma maioria.

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