Uma nova técnica usada para verificar a autenticidade de garrafas de whiskey raras pode também ser usado para detetar doenças.
Algumas garrafas de whiskey icónicas foram vendidas em leilão por mais de um milhão de euros. Mas se você for o feliz proprietário de tal whiskey, como pode ter certeza de que o que está a comprar é o produto genuíno?
Estudos mostraram que cerca de um terço dos whiskeys raros à venda em leilão podem ser falsos. Em 2017, um colecionador pagou um recorde mundial de 7.600 libras (8.400 euros) por uma única dose de whiskey raro, apenas para descobrir mais tarde que tinha sido vendida uma imitação.
O problema do álcool falsificado não se restringe apenas a colecionadores ricos. Vários casos foram relatados de pessoas envenenadas e a morrerem por beber whiskey contendo altos níveis de metanol venenoso.
Mas em breve esse tipo de problema pode ficar no passado, pois um novo estudo, publicado recentemente na revista científica Analytical Methods, permitiu desenvolver um novo método que pode usar lasers para testar quimicamente a autenticidade do whiskey, sem nunca abrir a garrafa. E o mais importante, a técnica tem o potencial de medir outras substâncias dessa forma, incluindo tecido humano.
Como é que funciona?
Quando um feixe de laser é direcionado a uma substância como o whiskey, o líquido espalha parte da luz numa variedade de cores diferentes. A mistura exata de cores produzida é única para a composição química da amostra e pode ser usada como uma impressão digital para identificar a amostra.
A técnica de medição dessa impressão digital, que nos dá uma compreensão detalhada da interação entre a luz e os átomos e moléculas que compõem uma amostra, é conhecida como espectroscopia. Assim como a identificação por impressão digital de criminosos, a identidade de uma amostra de whiskey pode ser identificada através de um banco de dados de amostras conhecidas.
O whiskey é uma mistura particularmente complexa de produtos químicos, conhecidos como congéneres, que conferem ao conteúdo de cada barril um sabor, aroma e cor únicos. Embora os criminosos se tenham tornado cada vez mais sofisticados em imitar o gosto, o cheiro e a aparência das tão procuradas bebidas, para enganar esse sistema é necessário que um whiskey falso seja quimicamente idêntico ao real – algo muito difícil de criar.
Há quase uma década desenvolvemos testes baseados em espectroscopia para a autenticidade do whiskey. O método também funciona para outros alimentos e bebidas onde a falsificação pode ser um problema, como azeite, vinho e mel.
No entanto, o conteúdo não é a única fonte de luz espalhada. Um problema comum em todos esses testes é que o recipiente de vidro pode produzir um sinal ainda maior do que o do conteúdo.
Isso é evitado no laboratório, testando uma amostra colocada num recipiente padronizado. Mas se você tivesse acabado de gastar uma pequena fortuna na última adição à sua coleção de whiskeys raros, gostaria que removêssemos e esgotássemos parte da sua preciosa compra? Provavelmente não.
A nova técnica foi projetada para superar esse desafio. Em vez de iluminar a garrafa com um feixe de laser padrão, introduziu-se um pedaço de vidro em forma de cone na frente da garrafa para remodelar a luz.
Ao formar um anel de luz laser na superfície da garrafa, que é reunido num ponto bem focado dentro do conteúdo líquido, podemos agora colocar o nosso detetor de modo a que apenas a luz dispersa produzida dentro da garrafa seja recolhida.
Desta forma, os cientistas conseguiram medir o conteúdo sem aquela contribuição irritante da garrafa. Os cientistas testaram o método em whiskeys de uma variedade de destilarias e foram capazes de distingui-los com facilidade. Também mostraram que o método funciona para outras bebidas alcoólicas, incluindo vodka e gim.
Outros benefícios
Indo além da comida e da bebida, todos os tipos de outras substâncias podem ser medidos dessa forma. Recentemente, a equipa de investigadores mostrou que se pode usar uma abordagem semelhante para medir bactérias e testar a sua resposta aos antibióticos.
Métodos baseados em laser oferecem a vantagem potencial de nos dizer a composição química do que eles veem com alta resolução e numa configuração muito mais barata e compacta do que um scanner de ressonância magnética, fornecendo informações vitais para o diagnóstico.
A espectroscopia a laser dá-nos as informações químicas, mas, como a luz geralmente não penetra muito na pele, atualmente é limitada ao diagnóstico próximo à superfície. Os cientistas planearam testar o novo método para ver se ele permitirá que a luz penetre mais profundamente no tecido e potencialmente detete quimicamente o cancro dentro do corpo.
Por enquanto, a espectroscopia oferece uma maneira potencialmente simples de testar álcool, quando comparada com outros métodos como datação por radiocarbono.
A simplicidade da abordagem sugere que os dispositivos podem ser facilmente fabricados para uso generalizado.
ZAP // The Conversation