A razão pela qual o novo coronavírus afeta muito menos as crianças do que os adultos é um mistério. A maioria das crianças não contrai a covid-19, e quando isso acontece, geralmente recuperam bem. Os cientistas consideram que a chave pode estar na resposta imunológica das crianças a patogénicos desconhecidos.
De acordo com um estudo publicado em setembro na Science Translational Medicine, que compara a resposta imunológica dos adultos com a das crianças, o sistema imunológico destas evolui para protegê-las de patogénicos desconhecidos, e por isso destrói rapidamente o coronavírus antes que este possa instalar-se no corpo.
Betsy Herold, autora principal do estudo e especialista em doenças infeciosas pediátricas da Escola de Medicina Albert Einstein, explica que “realmente as crianças têm uma resposta imunológica diferente a este vírus que parece protegê-las”. A equipa de Herold descobriu que a resposta imunológica é muito mais fraca nos adultos.
Normalmente, quando o corpo encontra um patogénico desconhecido atua em poucas horas através da sua resposta imunológica inata. Assim, o sistema imunológico conecta-se de modo a preparar-se para lutar contra possíveis perigos.
No caso das crianças esta atividade acontece com mais facilidade pois encontram mais frequentemente patogénicos que são novos para o seu sistema imunológico, sendo que a sua defesa é mais rápida e avassaladora.
Com o passar dos anos, e depois de o corpo humano encontrar vários patogénicos, o sistema imunológico vai-se preparando para enfrentar possíveis perigos. Ao atingir a idade adulta, o corpo conta com um sistema mais especializado e adaptado a combater ameaças específicas, diz o New York Times.
Michael Mina, imunologista pediátrico da Escola de Epidemiologia da Universidade de Harvard em Boston, referiu que a nível biológico, o sistema adaptativo é viável porque os adultos “dificilmente encontram um vírus pela primeira vez”.
Contudo, o coronavírus é novo para todos, e o sistema inato começa a ficar mais lento com o passar do tempo, tornando os adultos mais vulneráveis ao desconhecido e, neste caso, à covid-19. O estudo de Herold sugere que, no momento em que o sistema adaptativo de um adulto entra em ação, o vírus já teve tempo de se instalar no corpo.
Durante a pesquisa, a equipa de cientistas comparou as respostas imunológicas de 60 adultos e 65 crianças e jovens adultos com menos de 24 anos de idade. Todos foram hospitalizados no Montefiore Medical Center, na cidade de Nova York, entre 13 de março e 17 de maio.
No geral, o vírus afetou ligeiramente as crianças, em comparação com os adultos, que na sua maioria apresentavam sintomas gastrointestinais, além de perda de apetite e de olfato. Apenas 5 crianças necessitaram de ventilação para respirar, em comparação com 22 dos adultos. Os dados revelam também que apenas 2 crianças morreram, enquanto 17 adultos acabaram por falecer.
Os especialistas concluíram, com a observação que foi feita durante o período referido, que as crianças tinham níveis muito mais elevados de moléculas imunológicas importantes no sangue. As moléculas foram encontradas com mais frequência em pacientes mais jovens, e diminuíam gradualmente em doentes com idade mais avançada.
Jane C. Burns, especialista em doenças infeciosas pediátricas da Universidade da Califórnia, defende que mesmo depois da pandemia passar é necessário manter o alerta com as crianças, pois apesar de terem capacidade para produzir uma forte resposta imunológica, os seus corpos desligam-na depois que o perigo passa.
Se este vírus se tornar endémico – como acontece com os tipos de coronavírus que causam as gripes comuns – com o tempo as crianças deverão desenvolver defesas adaptativas tão fortes que não correm o risco de ter os problemas que os adultos estão a ter.
Desta forma os cientistas acreditam que daqui a uns anos as crianças de hoje, que irão alcançar a idade adulta no futuro, vão normalizar o novo coronavírus nos seus sistemas imunológicos, e assim a população já vai ter capacidade para erradicar o vírus.
Talvez as crianças e afins não conheçam Coronas vírus nem “bons/normais”, nem “maus/Corona19”, e trata-os logo por igual e agressivamente.
Nos adultos, o sistema imunitário confunde-os julga que os “maus/19” são os “bons”, já seu conhecido, e quando dá pelo engano, pode já ser tarde e os “maus” já se instalaram.