As autoridades israelitas têm deixado milhares de palestinianos cruzar a barreira de separação entre os dois territórios para poderem ir às praias.
Este foi um fim-de-semana muito especial para Siham e os seus cinco filhos. A família, que mora na vila palestiniana de Bil’in, na Cisjordânia, conseguiu cruzar a barreira de separação com Israel e aproveitar o bom tempo na praia de Jaffa.
“Os meus filhos nunca tinham visto o mar. Foi como se estivessem a chegar à atração mais importante do mundo. Tocar na água salgada e brincar com eles na areia foi a melhor e a mais barata experiência que lhes podia ter oferecido”, cita o jornal israelita Haaretz.
Siham foi, tal como muitos palestinianos, uma das pessoas que, na última semana, tiveram permissão para cruzar a barreira de separação e visitar as praias do país vizinho.
“Viemos para Kafr Biddu e cruzámos a barreira numa abertura da cerca, não foi num posto de controlo ou algo parecido. Do lado israelita, estava um autocarro à nossa espera. Paguei 30 shekels [cerca de sete euros] e fomos para Jaffa. Não havia nada ameaçador. Fiquei surpreendida por ver os soldados a olharem para nós sem nos dizer nada”, conta Inas, mãe de três filhos.
O jornal israelita adianta que a presença de famílias palestinianas nestas praias tem sido um tópico de discussão na Cisjordânia, com muitos a questionar se será apenas um ato espontâneo, ou um protesto contra a própria Autoridade Palestiniana (AP), que tem tentado restringir os movimentos por causa da pandemia de covid-19.
Por outro lado, o diário questiona porque é que Israel está a fechar os olhos e a deixar milhares de pessoas cruzar a barreira de separação, sem qualquer supervisão ou inspeção. As Forças de Defesa de Israel não quiseram fazer comentários.
“O Governo palestiniano está a impor restrições e Israel está aparentemente interessada em receber milhares de palestinianos para provar à AP que não controla nada“, disse um residente da cidade de Nablus.
“A verdade é que os militares também viram que se tratava apenas de famílias com boias, bolas de praia e cestos de comida, e não granadas”, acrescenta Araf Sha’aban, morador de Jenin que organizou viagens de autocarro para as praias de Jaffa e de Herzliya.
Outra testemunha disse ao mesmo jornal que os militares chegaram mesmo a ajudar as famílias a atravessar para a Cisjordânia, quando já era de noite, apontando os faróis dos jipes para as aberturas na vedação.
No início de junho, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, pediu ao exército para se começar a preparar para a anexação de partes da Cisjordânia ocupada, incluindo o estratégico Vale do Jordão e dezenas de colonatos judeus.
O plano de anexação provocou uma onda de críticas da comunidade internacional, mesmo de alguns dos mais próximos aliados de Israel, que defendem que qualquer alteração ao mapa no Médio Oriente destruirá as já poucas esperanças de criação de um Estado palestiniano e de um acordo de paz.