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Cientistas descobrem nova espécie, mas a guerra pode deixá-la escondida para sempre

Alec Moore

Uma equipa de investigadores descobriu uma nova espécie de raia, proveniente do Iémen. No entanto, a guerra que afronta o país pode impedir os cientistas de procurarem por mais espécimes.

O mundo tem uma nova espécie. Uma equipa de investigadores descobriu uma raia, um primo distante de tubarões. É pequena, do tamanho de uma mão estendida, e à primeira vista sem grandes marcas distintivas. Mas o que há de especial nesta raia é de onde ela veio, como foi descoberta e porque talvez nunca mais a vejamos novamente.

O termo “descoberta” pode evocar imagens de intrépidos biólogos marinhos que encontram um animal escondido numa caverna remota ou enquanto mergulham no abismo num submersível. Na verdade, muitos dos tubarões e raias descobertos nos últimos anos foram encontrados em mercados de peixe. Esta raia não é exemplo disso. Os cientistas encontraram-na numa jarra de vidro, numa prateleira de um museu, no centro de Viena.

A nova espécie, agora cientificamente conhecida como Hemitrygon yemenensis, é proveniente do Iémen, na Península Arábica. Um estudo foi recentemente publicado no portal Biotaxa.

Em 1902, uma equipa austríaca de marido e mulher – Wilhelm e Marie Hein – estava na cidade costeira de Qishn, para estudar a única língua Mehri. Marie, além de fornecer tratamento médico aos habitantes locais, recolheu mais de 2.000 espécimes botânicos e zoológicos, entre eles, duas raias, um macho e uma fêmea. Os espécimes foram preservados e levados de volta para o Museu de História Natural de Viena, onde ficaram parados numa jarra de vidro a ganhar pó durante 115 anos.

O investigador Alec Moore, num relato publicado no The Conversation, conta que estava a vasculhar a lista de espécimes da expedição dos Hein quando reparou num nome antigo, agora obsoleto, de uma raia. Uma investigação mais aprofundada sugeriu que era algo especial nunca antes visto.

O cientista procedeu a cuidadosamente partir a jarra de vidro e analisar minuciosamente as raias. Depois, juntamente com a sua equipa, comparou o espécime iemenita com espécimes conhecidas e intimamente relacionadas.

Até ao momento, pouco se sabe em relação a esta nova espécie e, infelizmente, é provável que continue assim. Além dos dois espécimes recolhidos há mais de um século, o animal é completamente desconhecido da ciência.

As espécies pequenas de raia não tendem a nadar para longe e, como resultado, geralmente têm pequenas faixas geográficas – portanto, há uma chance de a H. yemenensis existir apenas no Iémen.

No entanto, a investigação é quase impossível devido a uma guerra brutal e à crise humanitária, décadas de conflito anterior, e por estar entre os “países menos desenvolvidos” para indicadores como pobreza, educação e esperança média de vida.

A pesca intensiva insustentável nessas áreas ameaçam não apenas espécies marinhas únicas como a nova espécie de raia, mas também os meios de subsistência das próprias comunidades pesqueiras. Existe até uma chance de que a H. yemenensis tenha sido extinta antes de percebermos que era uma nova espécie.

Wilhelm Hein morreu no ano seguinte à expedição, com apenas 42 anos. Espera-se que a sua raia não tenha morrido com ele.

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