O naufrágio Mary Celestia foi encontrado em fevereiro de 2011 na ilha das Bermudas depois de uma grandes tempestade. Dentro dele, foi encontrado um perfume intacto que esteve escondido durante 150 anos. A fragância foi recriado e ganhou uma nova vida.
Depois de uma tempestade intensa ter atingido as Bermudas em fevereiro de 2011, o guardião de naufrágios históricos da ilha, Philippe Max Rouja, avistou uma proa de um barco, que pertencia ao corredor de bloqueio da Guerra Civil Mary Celestia, que estava a caminho das forças confederadas da Carolina do Norte quando afundou em 1864.
De acordo com o Atlas Obscura, há mais de 300 embarcações enterradas na ilha, cada uma com a sua própria história e artefactos. Mas esta não é a história do naufrágio, mas sim de um perfume perdido escondido dentro da embarcação.
Após uma semana a examinar os destroços, uma equipa de mergulhadores e arqueólogos encontrou vários artefactos, incluindo sapatos, vinho e dois frascos de perfume. Os objetos estavam embalados juntos, levando a equipa a pensar que poderiam ter sido presentes.
As garrafas de perfume pareciam intactas. Um ainda continha uma pequena bolha de ar no interior, que de outro modo teria sido expelida pela água do mar. Gravados no vidro estavam os nomes “Piesse e Lubin de Londres”.
Rouja levou os frascos a Isabelle Ramsay-Brackstone, proprietária de uma loja de perfumes chamada Lili Bermuda. Ramsay-Brackstone soube imediatamente que eram um achado raro. “Nos anos 1800, Londres era um centro da indústria de perfumes e Piesse e Lubin eram o nome de uma casa de perfume de destaque na Bond Street”, contou. “Era um perfume que a rainha Victoria usaria”.
Inspirada pela descoberta, Ramsay-Brackstone interrogou-se se conseguiria recriar a fragrância 150 anos depois. De acordo com a lei das Bermudas, todos os artefactos recuperados do mar tornam-se propriedade do governo, juntando-se à coleção no Instituto de Exploração Subaquática das Bermudas.
Ramsay-Brackstone obteve permissão para guardar temporariamente as garrafas enquanto prosseguia a sua recriação e levou os perfumes para Nova Jérsia, onde Jean Claude Delville trabalhava na Drom Fragrances. A Drom é uma grande empresa internacional, com o equipamento necessário para realizar a cromatografia em fase gasosa (GC). A GC faz engenharia reversa de uma fórmula química, lendo a composição molecular de um perfume.
Depois de raspar cuidadosamente os depósitos minerais das garrafas e abri-las, Ramsay-Brackstone e Delville perceberam que água do mar tinha penetrado e estragado uma das fragrância. Porém, o outro perfume estava intacto. Segundo a dupla, cheirava a laranja, bergamota e toranja, com um leve aroma de flores e sândalo. Ao contrário da maioria das fragrâncias modernas que diferenciam os aromas em “feminino” e “masculino”, o perfume antigo continha ambos.
Ramsay-Brackstone e Delville mergulharam um palito no líquido e colocaram-no no cromatógrafo. A máquina concluiu a leitura molecular e gerou uma impressão: uma lista de hidrocarbonetos, ácidos e outros produtos químicos. Mas, embora as leituras moleculares fossem fáceis de obter, a tradução desses produtos químicos nos compostos aromáticos associados era muito mais complicada.
Ramsay-Brackstone e Delville recorreram ao seu próprio olfato e decidiram alguns ingredientes importantes, incluindo flor de laranjeira, rosas, sândalo e baunilha.
Para complicar ainda mais as coisas, os dois perfumistas tiveram de encontrar alternativas modernas para a civeta e ao âmbar verde, ingredientes de origem animal que seriam considerados antiéticos atualmente.
A dupla usou moléculas de almíscar feitas pelo homem, que hoje são projetadas em segurança e confiabilidade nos laboratórios.
A equipa também teve de usar diferentes solventes. Os usados por Piesse há 150 anos eram irritantes para a pele. Depois de escolherem os ingredientes, os dois perfumistas ainda precisavam de descobrir as suas proporções exatas por tentativa e erro.
Quando chegaram perto do que supunham ser a fórmula original, Delville voltou para as Bermudas. Os aromas locais naturalmente presentes no ar – mar, sal e areia – e até a altitude podem afetar a perceção do cheiro.
Os dois perfumistas nomearam a sua criação Mary Celestia. Nomear o perfume em honra de um navio que reabasteceu as forças confederadas não era para comemorar o corredor do bloqueio ou quaisquer figuras históricas. Ramsay-Brackstone acredita que a garrafa foi originalmente concebida como um presente e queria honrar esse relacionamento de longa data.
Ramsay-Brackstone emitiu uma edição limitada do perfume restaurado em setembro de 2014 – um 150 anos após o desaparecimento do navio – e incluiu 1.854 garrafas, uma referência ao ano em que o navio afundou.
A perfumista doou parte da receita para a Associação Profissional de Instrutores de Mergulho (PADI), uma organização que ensina jovens das Bermudas a mergulhar, uma habilidade importante na ilha.
A edição limitada acabou rapidamente e os clientes queriam mais. Hoje, Mary Celestia é vendida em Lili Bermuda e online por 130 dólares.
…onde se lê “os dois perfumistas tiveram de encontrar alternativas modernas para a civeta e ao âmbar verde” este último deverá ser substituído por “ambar cinza”, “ambar pardo” ou “ambar de baleia” trata-se de uma substância proveniente do intestino do cachalote que hoje tem comercialização proibida.