Um pulmão humano, preservado há mais de 100 anos num frasco, ajudou os cientistas a traçar a história do sarampo.
De acordo com o site Live Science, o pulmão em causa estava guardado no Museu de História Médica de Berlim, na Alemanha, e pertencia a uma criança de dois anos que morreu com sarampo em 1912.
Uma equipa de cientistas do Instituto Robert Koch decidiu extrair amostras do vírus do tecido pulmonar e usou o material genético – o mais antigo genoma do sarampo já sequenciado – para aprender mais sobre as origens deste patógeno.
No estudo científico, publicado, na semana passada, na revista Science, os investigadores estimam que o sarampo poderia ter divergido do seu parente mais próximo conhecido, o vírus Rinderpest, em 528 A.C.
Em declarações ao mesmo site, Sébastien Calvignac-Spencer, virologista e um dos autores da pesquisa, afirma que esta nova estimativa sugere que o vírus pode ser “mais de mil anos mais antigo do que qualquer estimativa anterior”.
Estudos anteriores previram que o sarampo e o Rinderpest, que causou a peste bovina, se separaram do seu ancestral comum mais recente entre os séculos XI e XII. No entanto, o médico persa Muhammad ibn Zakariya al-Razi também chegou a escrever uma descrição clínica do sarampo no século X.
Os autores deste novo estudo científico destacam que, antes de terem encontrado a amostra com 108 anos, o genoma mais antigo do sarampo já sequenciado datava de 1954.
Com base em quando a peste bovina e o sarampo divergiram, a “primeira data possível para o estabelecimento do sarampo em populações humanas” ocorreu por volta do século VI A.C., embora a data exata em que o vírus infetou as pessoas, pela primeira vez, continue a ser desconhecida.
Os autores do estudo notaram que, há cerca de 2000 e 2500 anos, os humanos começaram a construir povoações grandes o suficiente para manter um surto de sarampo, oferecendo ao vírus a oportunidade de se estabelecer.
O sarampo tende a desaparecer em comunidades de menos de 250 mil indivíduos, à medida que os moradores rapidamente se tornam imunes ou morrem da doença, de modo que “pequenas populações humanas só poderiam servir como hospedeiros sem saída”, escreveram.