O Twitter desativou quase 24 mil contas vinculadas à China que serviam como “amplificadores”, em ações de propaganda e desinformação dirigidas por Pequim.
O Twitter anunciou, esta sexta-feira, que baniu dezenas de milhares de contas envolvidas em ações de propaganda, e controladas pela China, Rússia e Turquia, depois de a Comissão Europeia ter acusado Pequim de desinformação.
A rede social desativou um “núcleo” de quase 24.000 contas vinculadas à China e cujas mensagens eram reproduzidas por outras 150.000 contas, que serviam como “amplificadores”, em ações de propaganda e desinformação dirigidas por Pequim. O Twitter encerrou ainda 7.340 contas vinculadas à Turquia e 1.152 vinculadas à Rússia.
O conteúdo vinculado pelas diferentes contas foi guardado numa base de dados para análise, revelou em comunicado.
A rede social, com sede nos Estados Unidos, explicou que as contas vinculadas ao Estado chinês foram descobertas usando os mesmos métodos implementados em agosto passado para apagar contas vinculadas a Pequim, durante os protestos pró-democracia em Hong Kong.
Tradicionalmente, o regime chinês recorre aos seus órgãos de comunicação estatais para promover a narrativa oficial, tendo investido milhares de milhões de dólares, nos últimos anos, para expandir publicações e produção de conteúdo audiovisual em línguas estrangeiras.
No entanto, o uso das redes sociais de forma encoberta indica uma mudança para estratégias de desinformação já utilizadas pela Rússia e o Irão. “Toda a rede estava envolvida numa série de atividades manipulativas e coordenadas”, justificou o Twitter.
A rede de contas publicou mensagens, sobretudo em língua chinesa e provavelmente destinados à diáspora, “com narrativas geopolíticas favoráveis ao Partido Comunista Chinês e narrativas falsas sobre a dinâmica política em Hong Kong”.
A decisão do Twitter ocorre depois da Comissão Europeia ter acusado publicamente a China de espalhar desinformação sobre o novo coronavírus.
“Tomámos conhecimento de uma série de acusações, como a que o novo coronavírus foi desenvolvido em laboratórios norte-americanos e sobre uma promoção exagerada do apoio da China à União Europeia, com muita propaganda que indica que os Estados-membros e as instituições democráticas europeias não foram capazes de lidar com a crise”, indicou a vice-presidente da Comissão Europeia com a pasta dos Valores e Transparência, Vera Jourová.
“Embora o Partido Comunista Chinês não permita que o povo chinês use o Twitter, a nossa análise mostra que não hesita em usá-lo para espalhar propaganda e desinformação internacionalmente”, afirmou a unidade de investigação australiana ASPI.
Pequim, que há muito se queixa que a imprensa ocidental domina o discurso global e alimenta preconceitos contra a China, investiu nos últimos anos milhares de milhões de dólares para convencer o mundo de que o país é um sucesso político e cultural.
O Twitter ou o Facebook têm sido parte central dessa estratégia, apesar de estarem bloqueados na China, onde a narrativa é controlada pelo Partido Comunista, cujo Departamento de Propaganda emite diretrizes para os órgãos de comunicação ou censura informação difundida nas redes sociais domésticas, como o Wechat ou Weibo.
Vários órgãos de comunicação estrangeiros estão também bloqueados na Internet chinesa, a maior do mundo, com cerca de 710 milhões de utilizadores.
ZAP // Lusa