Jyoti Kumari, conhecida na Índia como “coração de leão”, transportou o pai ferido por mais de 1.200 quilómetros de bicicleta, durante sete dias.
Jyoti Kumari, uma adolescente de 15 anos, vivia com o pai em Gurugram, em Nova Deli, na Índia, desde janeiro. A jovem mudou-se da casa de família para tomar conta do pai, que tinha deixado a aldeia de Darbhanga para trabalhar na capital.
O pai conduzia um riquexó. Devido a um acidente, ocorrido em janeiro, acabou por perder a mobilidade das pernas, tendo deixado de conseguir andar e, consequentemente, trabalhar.
O pai de Jyoti Kumari deixou de conseguir assegurar o sustento da família e, com a pandemia de covid-19 e o confinamento (que acabaram por impedir todas as deslocações não essenciais) não conseguiu regressar à terra natal. A adolescente e o pai ficaram sem meios para sobreviver.
Como não tinham dinheiro, deixaram de pagar a renda, sob risco de serem despejados. Com o pouco dinheiro que ainda tinha na sua posse, Jyoti decidiu comprar uma bicicleta e pedalar até casa.
“Não tínhamos outra opção. Estava demasiado calor, mas só pensava numa coisa, que era chegar a casa”, contou a jovem, citada pelo The Guardian. Com o pai na bicicleta, a adolescente indiana pedalou quase 1.200 quilómetros durante sete dias.
A adolescente só apanhou uma curta boleia num camião e, durante a longa jornada, ambos subsistiram com a ajuda de desconhecidos. Durante os dez dias, a jovem foi pedindo emprestado telemóveis para tranquilizar a mãe: “não se preocupe”, dizia.
Sete dias depois, Jyoti e o pai chegaram a casa. Dias mais tarde, a adolescente recebeu um telefonema do presidente da Federação de Ciclismo da Índia, Onkar Singh, que a convidou para fazer um teste de entrada na equipa nacional em Nova Deli.
Mas, segundo o NPR, o esforço de Jyoti faz parte de uma história muito maior. Durante mais de dois meses, as estradas indianas entupiram-se de trabalhadores migrantes que tentaram regressar a casa.
Durante a crise, desencadeada pela pandemia de covid-19, cerca de 100 milhões de pessoas perderam o emprego e muitos ficaram presos em grandes centros urbanos.
Desesperados e sem dinheiro, tentaram regressar às suas aldeias, onde podiam confiar nas redes familiares para sobreviver. Mas muitos não conseguiram: ao tentarem voltar para casa, alguns migrantes morreram de fome nas bermas das estradas da Índia; outros foram esmagados por comboios ou atropelados por camiões e alguns entraram em colapso, enquanto caminhavam até à exaustão.
A história de superação desta jovem indiana teve um final feliz e é uma espécie de luz de esperança.