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Antigos documentos mostram por que as mulheres votaram em Hitler

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A ascensão de Hitler e do Partido Nazi na década de 1930 foi resultado do voto de milhões de homens e mulheres alemães. No entanto, pouco se sabe sobre o porquê de as mulheres votarem em Hitler.

Para além de algumas figuras de destaque, como a guarda do campo de concentração Irma Grese e a “assassina do campo de concentração” Ilse Koch, pouco se sabe sobre as mulheres que abraçaram o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, conhecido mais comummente como Partido Nazi.

Os poucos dados que temos sobre as mulheres nazis foram amplamente subutilizados, esquecidos ou ignorados. Isso deixou-nos com um entendimento reduzido da ascensão do movimento nazi, que é quase exclusivamente focado nos membros masculinos do partido.

E, no entanto, mais de 30 dissertações sobre o assunto “Por que me tornei nazi”, escritos por mulheres alemãs em 1934, estiveram ocultos nos arquivos da Hoover Institution, nos EUA, durante décadas. Estas dissertações foram ‘desenterradas’ há apenas três anos. Desde então, elas foram disponibilizados digitalmente, mas não receberam ampla atenção.

Os relatos destas mulheres dão uma ideia do papel delas na ascensão do partido nazi. Além disso, também mostram até que ponto as atitudes das mulheres em relação ao feminismo diferiram após a Grande Guerra.

O movimento de mulheres alemãs estava entre os mais poderosos e significativos do mundo meio século antes dos nazis chegarem ao poder em 1933. O ensino era amplamente aberto às mulheres e muitas alemãs tornaram-se professoras, advogadas, médicas, jornalistas e escritoras.

Em 1919, as mulheres alemãs obtiveram o direito de voto. Em 1933, as mulheres votaram aproximadamente nas mesmas percentagens que os homens em Hitler e em candidatos nacional-socialistas.

“Todos eram inimigos de todos”

As dissertações da Hoover Institution dão uma ideia do porquê de algumas delas votarem em Hitler.

A insatisfação com as atitudes na era de Weimar, o período entre o final da Primeira Guerra Mundial e a ascensão ao poder de Hitler, é clara nos relatos das mulheres. A maioria expressa aversão a algum aspeto do sistema político.

Uma classifica os direitos de voto das mulheres como “uma desvantagem para a Alemanha”, enquanto outra descreve o clima político como “arame farpado” e “todos eram inimigos de todos”. Margarethe Schrimpff, uma mulher de 54 anos que morava nos arredores de Berlim, descreve a sua experiência:

“Participei nas reuniões de todos os partidos, dos comunistas aos nacionalistas; numa das reuniões democráticas em Friedenau, onde falava o ex-ministro colonial, um judeu chamado Dernburg, presenciei o seguinte: esse judeu teve a audácia de dizer, entre outras coisas: ‘De que são os alemães capazes? Talvez criar coelhos’.

Caros leitores, não pensem que o sexo mais forte, altamente representado, tenha saltado e dito a esse judeu para onde ir. Longe disso. Nenhum homem falou, eles ficaram calados. No entanto, uma miserável, uma frágil mulher do chamado ‘sexo mais fraco’ levantou a mão e rejeitou com força os comentários descarados do judeu”.

O culto de Hitler

Para os homens, o culto à personalidade parece centrar-se em torno de Hitler como um forte líder a levar em frente uma Alemanha que se definia por aqueles que excluía. Não é de surpreender que as mulheres, à beira da exclusão, fossem menos cativadas por esta componente do nazismo.

Em vez disso, as mulheres parecem mais comovidas com as soluções propostas pelo nazismo para problemas como a pobreza, em vez da suposta grandeza da ideologia nazi em abstrato.

Na sua dissertação, Helene Radtke, uma esposa de 38 anos de um soldado alemão, descreve o seu “dever divino de esquecer todas as tarefas domésticas e de prestar serviço à minha terra natal”.

Agnes Molster-Surm, uma dona de casa e professora, chama Hitler de “Führer e salvador divino, Adolf Hitler, para honra da Alemanha, fortuna da Alemanha e liberdade da Alemanha!”

Estes relatos não servem apenas como curiosidades históricas, mas como um alerta sobre como as pessoas comuns podem ser atraídas para a ideologia extremista num momento de angústia social. Linguagem semelhante foi usada para descrever o clima político atual nos Estados Unidos e noutros países. Talvez, como algumas pessoas pensam hoje, essas mulheres acreditassem que todos os males da sua sociedade poderiam ser resolvidos com a restauração da sua nação a um estado percebido de glória anterior, custe o que custasse.

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