Em outubro, quando a Liga Norte-Americana de Basquetebol (NBA) tentou voltar atrás no apoio aos protestos em Hong Kong, foi criticada por se submeter ao regime autoritário da China. Mas são cada vez mais as organizações e empresas estrangeiras que cedem às pressões do Partido Comunista Chinês (PCC).
O atrito entre a China e a NBA iniciou quando o diretor do Houston Rockets, Daryl Morey, escreveu no Twitter (posteriormente apagado): “Lute pela liberdade, fique com Hong Kong”. Isso levou a China a suspender as transmissões da NBA na pré-temporada, a retirar os seus patrocínios e a romper os laços com a equipa.
Perante a perspectiva de desfazer décadas de trabalho para promover o crescimento no mercado externo, a liga retratou-se. Mas a decisão de seguir a linha do PCC não é exclusiva da NBA, revelou na terça-feira o OZY.
Segundo especialistas, a China está a utilizar um mecanismo especializado para controlar as relações com marcas e empresas estrangeiras que operam no país, que, por sua vez, estão cada vez mais a atender aos pedidos do PCC.
Esse mecanismo é um comité do partido que opera em empresas e instituições privadas e estatais, cujos membros são escolhidos pelo PCC e pelas empresas em questão. Oficialmente, existem para permitir que as empresas se mantenham informadas sobre as mudanças legais e atualizadas com o clima político na China. Porém, é através destes que o partido exerce cada vez mais influência sobre as empresas que operam no país.
Até há 18 meses, esses organismos eram maioritariamente simbólicos, mas no final do ano passado, 106 mil empresas estrangeiras já haviam estabelecido comités do PCC, totalizando 70% das empresas que operam no país. Isso representa um aumento de 125% em relação a 2011, quando o número era de 47 mil.
No geral, das 2,7 milhões de empresas privadas nacionais e estrangeiras na China, 68% criaram um comité partidário, 30% nos últimos cinco anos.
“O PCC sempre demonstrou poder administrativo para reprimir ou punir empresas que não seguem a linha do partido”, disse Xin Sun, professor de negócios chineses e asiáticos no King’s College London. Mas exercer esse poder tornou-se cada vez mais proeminente desde que Xi Jinping assumiu o poder. “E as empresas estão a prestar mais atenção para não se envolverem em ações consideradas inaceitáveis pelo partido”, acrescentou.
Em 2018, as autoridades chinesas emitiram avisos a 44 companhias aéreas internacionais para que alterassem os seus sites, que listavam Taiwan como uma entidade separada da China. O aviso levou a que outras empresas alterassem essa informação, garantindo que os seus sites seguiam a vontade do PCC.
Em outubro de 2019, a Dior foi forçada a pedir desculpas por apresentar um mapa da China que excluía Taiwan. Nos últimos meses, a Versace e Calvin Klein também se desculparam publicamente por listar Hong Kong como um país, e não como uma região administrativa da China.
Uma das razões que fizeram com que as empresas estrangeiras incorporassem comités partidários – algo que não é obrigatório – é a mudança de abordagem do governo em relação aos regulamentos.
Essencialmente, o governo começou a impor regulamentos mais rigidez, indicou Philip Beck, presidente da Dubeta Ventures China, uma holding privada. “Nos últimos quatro ou cinco anos, as coisas eram muito cinzentas, impulsionadas pela esperança de que a auto-regulação prevaleçasse num sistema de regulamentação estatal, algumas das quais são bastante difíceis”. O que torna particularmente difícil para empresas estrangeiras é a tendência de Xi Jinping na “aplicação seletiva de leis e regulamentos”.
A explosão desses comités, continuou o OZY, aproximou os negócios da esfera de influência do PCC. Mas considerar isso simplesmente como um meio de aumentar o controle do governo seria um erro, alertou Chris McNally, professor de economia política na Universidade de Chaminade. “O comité do partido raramente é soberano” e as vias de comunicação por estes criadas favorecem tanto as autoridades como as empresas, disse.
À medida que o PCC e as empresas se aproximam e a confiança das autoridades chinesas aumentam, seguir a linha do partido tornar-se-á mais importante para as empresas estrangeiras. E com o mercado chinês a tornar-se vital para as indústrias globais, não seguir as diretrizes do partido pode ter consequências graves, concluiu o OZY.